
Entrevista a Agustí Fernández no i, por Tiago Pereira.

É, muito sinceramente, um luxo a que ninguém se pode dar hoje em dia, mas a verdade é que este disco esteve dois anos em preparação. Têm nas liner notes do Agustí – esclarecedora, sensível e honesta síntese do processo – toda a informação sobre a sua génese, mas devemos ainda assim esclarecer um par de coisas: primeiro, no que se entende como uma das maiores características da sua personalidade, o seu autor atribui-nos um crédito excessivo; o mérito de “El laberint de la memòria” (“O Labirinto da Memória”, em catalão) é todo seu e qualquer defeito que lhe detectem dever-se-á ao pressuposto com que o abordámos. Depois, não menciona a sua extrema boa vontade, paciência, dedicação e disponibilidade durante a discussão daquilo que, a princípio, lhe pode ter soado completamente a despropósito: a sugestão de que deveria produzir um disco livremente baseado na música espanhola para piano dos últimos – arredondando – 100 anos.
Embora, de forma abstracta, ainda encontremos nestas peças fragmentos do material de partida (compilámos para lhe enviar dois CDs com 42 obras para piano solo, escritas entre 1864 e 1981 por compositores como Garbizu, Granados, Albéniz, Falla, Guridi, Mompou, Blancafort, Turina ou Gerhard), ouvimo-las mais como um acto de transcendência do que de tradução, e menos ainda de interpretação. Nesse particular – estando, por exemplo, familiarizados com o trabalho do Agustí no Electro-Acoustic Ensemble de Evan Parker (ECM), no quarteto com Parker, Barry Guy e Paul Lytton (Maya) ou no trio com John Edwards e Mark Sanders (Psi) – seria de esperar que tivesse o pianista simplesmente atomizado os elementos ao seu dispor. Mas o seu rigor intelectual não o permitiu.