sexta-feira, 10 de julho de 2009

Norberto Lobo "Pata Lenta" no EXPRESSO

Rui Tentúgal entrevistou Norberto Lobo… e tirou-lhe o retrato:

“Norberto Lobo é a pessoa mais feliz do mundo por poder tocar guitarra e por o mundo estar cheio de "fixes" que gostam dele e da sua música. Entre os que gostam dele e da sua música estão as 400 pessoas que esgotaram no dia 5 de Junho a Casa do Alentejo, em Lisboa, para o primeiro concerto de apresentação de "Pata Lenta"; e estão os que já tocaram com ele e fizeram questão de deixar comentários no seu MySpace, como o alaúdista holandês Jozef van Wissem: "It's all good"; ou o compositor americano Rhys Chatham: "Thanks for the beautiful music"; ou Gary Lucas (guitarrista de Captain Beefheart e co-compositor de "Grace" de Jeff Buckley), que o comentou no seu próprio blogue: "Jammed with a fantastic Portuguese acoustic guitarist Norberto Lobo."

Impressionante? Não. Impressionante é que seja necessário puxar por ele para que fale dos outros. Por exemplo, o violoncelista Ernst Reijseger: "É um músico fora de série. É só ouvidos e mãos, aquele homem. Foi na Holanda, no backstage, depois de um concerto. Foi um momento muito mágico"; Devendra Banhart: "Toquei com ele no Sudoeste e na Aula Magna. É um fixe"; Larkin Grimm: "Fizemos juntos uma tour. Eu fazia a primeira parte e depois tocava umas músicas com ela"; Lhasa: "É a maior do mundo. Foi no Canadá. Toquei num festival onde ia abrir para ela. Como ela gostou, toquei três vezes. Adoro a Lhasa. Quando a vi, fiquei petrificado"; Jack Rose e Steffen Basho-Junghans: "São dois músicos com quem aprendi muito só de ouvi-los falar. São pessoas que já têm uma visão muito avançada do instrumento e da música. E são muito generosas no que diz respeito a partilhar. Não têm aquela ideia de 'sou o melhor guitarrista do mundo e não digo os meus segredos a ninguém'."

(...)

E é em "Pata Lenta" que tudo ganha sentido. É nesta música, umas vezes vertiginosa, outras dolente, doce e abstracta, melodiosa e profunda, que qualquer ouvinte consegue encontrar o que o encante. "Pata Lenta" é uma mise en abyme, uma vertigem de música dentro da música. Tudo o que ele ouviu, toda a gente com quem ele toca, o seu reportório retrabalhado, uma melodia que a memória levou aos dedos, a energia do dia em que o gravou. O mistério da música de Norberto é que atrai quem sabe tocar a querer tocar com ele e quem não sabe a querer partilhar o espaço sonoro do disco ou o espaço físico de um concerto.

E a entrevista? Norberto não explica nada. Só lhe saem frases melódicas:
"O Coltrane está ao nível do Paredes como influência na minha vida, em todos os sentidos."
"Não penso no que estou a fazer como folk."
"Sempre fui mais de ouvir o músico do que o estilo. Gosto de beber água de diferentes rios."
"Não ouvi muito John Fahey. Nunca ouvi Robbie Basho na vida."
"É uma relação muito promíscua, a da minha guitarra com outros instrumentos."
"As pessoas, quando vivem no som, vivem mesmo no som."
"A interpretação é a composição, e vice-versa. Nascem ao mesmo tempo e crescem juntas. Umas vezes zangam-se e outras vezes ficam amigas."
"Os guitarristas, como todos os instrumentistas, têm um bocado a tendência para o desenho. Gosto muito de tocar por desenhos, de fazer desenhos com as mãos, que são ao mesmo tempo ideias melódicas."
"Nas bandas sempre fui para a eléctrica, porque não tenho guitarra semiacústica, e para tocar com os bateristas tens de ter volume. Adoro tocar guitarra eléctrica e ando a explorar coisas a solo para ela. Normalmente, toco com uma guitarra acústica de cordas de aço, por cujo som me apaixonei. É uma guitarra que comprei na Holanda, muito velha, mas com um som muito especial. O instrumento também condiciona a criação, porque as cordas de nylon puxam para outra linguagem, mas foi a paixão do aço."

Esclarecidos?

P.S. - Esta semana, Naná Vasconcelos (o percussionista brasileiro que gravou com Jon Hassell, Jan Garbarek, Don Cherry e outros) conheceu-o em Vila do Conde e já não o larga.”