sexta-feira, 1 de junho de 2012

Éme "Gancia" (STREAMING E DOWNLOAD GRATUITO)



Este “Gancia” é o primeiro álbum de um artista a solo no seio da Cafetra. E, numa repentista tangente entre folclore onírico e pop fantasista, aquele que, num contexto de música popular, consegue, sem renunciar ao equilíbrio entre imediatismo de procedimentos e pungência emocional que parece ser comum ao ideário dos colegas de editora, sugerir os mais inesperados caminhos. Diz o Éme: “acho que este disco é importante para a Fetra porque é o primeiro longa-duração que se afasta do espectro de rock abrasivo a que, provavelmente, mais pessoas tiveram acesso e a que imediatamente nos associaram. Mostra também que nunca pensámos na Fetra como um colectivo com ideias inequívocas ou consensuais mas antes como um espaço em que se acolhem e complementam as ideias de cada um”.

O espírito colectivista da Cafetra tem sido, aliás, um dos principais motores para os elogios granjeados pelos seus activistas, principalmente num meio em que muitas vezes se mistifica esse valor com propósitos sinecuristas. Um álbum de um escritor de canções parece contrariar essa ética, mas Éme é claro: “Nas canções que faço há sempre trabalho que não é meu – até porque é a observação dos outros o que lhe dá o mote. Por isso, este "Gancia" é meu e de amigos meus… na gravação, mistura, masterização, execução e tudo o que se possa imaginar. Em casa do Luís Gravito (Cão da Morte), com a presença regular do Leo (Kimo Ameba, Go Suck a Fuck, Rabuh Mastah, Putas Bêbadas) e do Filipe Sambado (Cochaise), com os toques finais do B Fachada, conseguimos o som que tudo isto pedia: caseiro mas nunca demasiado áspero ou duro. Este som, que dá a vida final aos arranjos e às canções, parece-me uma das coisas que faz deste disco um objecto algo singular”.

Surpreendente é também o ambiente relativamente espartano em que respiram parte destas canções. Às vezes basta um dedilhado – ora mais narcótico, ora mais neurótico – ou um pedal para suster a estrutura de cada tema. Também isso foi uma preocupação: “tentámos não dar às canções mais do que o que elas pediam. Não nos interessou a grandiosidade da instrumentação ou o seu sentido épico. Nos temas de "tom mais confessional" (pior expressão), fazer o arranjo foi escolher apenas o essencial de um grande número de ideias e a partir daí construir o estritamente necessário. Tudo o que estivesse a mais ficava mal”.

É nesse quadro de inegável sobriedade que sobressaem as características melódicas e harmónicas de Éme. Mas também nesse particular ele partilha o mérito: “uma das coisas mais importantes do disco é a voz da Júlia. As harmonias que a Júlia ouve são especiais e mais ninguém as podia fazer. Soam naturais porque são mesmo. Não há truques, é mesmo assim”.

“Gancia” é a vulnerável revelação de um autor que começa a querer desvendar/(re)inventar os mistérios do mundo a partir de um quarto e de uma audiência de meia dúzia de amigos, mas que, pela mais pura honestidade artística, quer também tudo isso transcender: “o que posso dizer mais é que estou muito entusiasmado com este disco. É um disco de que gosto muito e é também um disco que me dá muito espaço para progredir. Espero fazê-lo nos próximos”.

Ouvir "Gancia" é ver o Éme a partir para o outro lado do espelho.
"Gancia" terá uma edição limitada a 100 exemplares, colocada à venda no concerto de apresentação agendado para a Zé dos Bois, a 15 de Junho!