quinta-feira, 30 de outubro de 2008

João Coração no Cotonete

Gonçalo Palma traçou uma linha entre o Minho e o Nevada para se compreender a música do Coração. Podem lê-lo aqui.

Uma frase:
"Uma selecção de canções de embalo para sestas de tarde de domingo, ao som de sinos e de uma variedade porreira de guitarras, das eléctricas e acústicas convencionais à espanhola e à braguesa, e pingado por coisas tão contrastantes como o trompete ou a harmónica".

High Places e The Sea And Cake no Sound + Vision

Em duas semanas, Nuno Galopim actualizou a agenda Thrill Jockey com textos dedicados a Sea And Cake primeiro e a High Placesdepois.

Frases:
"Ritmos jazzy, melodias suaves e uma exigência de perfeccionismo na composição, na interpretação e na produção são características que voltamos a encontrar nas canções que fazem o alinhamento deste Car Alarm. (...) Pode não acrescentar muito ao que conhecemos já nos Sea and Cake. Propõe, mesmo assim, um novo e sólido corpo de canções. E atinge, em Weekend, uma canção tão próxima do ideal de single pop como nunca".

Sobre High Places: “As texturas e drones, que traduzem técnicas de colagem e um interesse pelas estéticas da repetição, definem espaços onde a voz quase fantasmática de Mary Pearsen age como elemento de ligação à ideia da canção. As composições sugerem, na estrutura dos temas apresentados, uma aparente economia de recursos. Esse eventual ascetismo cede, na arte final, sob a edificação de cenários que não recusam vestir sugestões de exotismo, às vezes colhidas em sugestões de músicas de outras latitudes”.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Tiago Guillul e João Coração no Expresso

João Lisboa escreveu sobre Guillul e Coração. Podem ler aqui.

Destacamos estas linhas:
“A quarta publicação de Guillul (…) é o género de OVNI estético que sobrepõe sem problemas apostolado tão convicto quanto verrinoso (…) ácido sulfúrico “à la Dylan ” (…), imprecações literalmente incendiárias (…) e infantilidades surrealmente dementes, em gloriosa encenação sonora que faz ricochete do “panque” para o arraial “cool”, da tasca para o altar”.


“João Coração entrega-se a um estilo de canção acústica com iluminuras “bruitistas”, nascida da improvável intersecção de um Chet Baker sonâmbulo com um Fausto perdidamente romântico”.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Ruben Alves no Bodyspace

Crítica aqui.

João Coração Nº1. Sessão de Cezimbra


"Quando entrei na sala, o Samuel Úria, alto e elegante, segurava a Stratocaster. O Tiago Guillul debruçava o seu tacto subtil sobre as teclas do Rhodes. O Coração sentou-se em frente ao microfone central, pegou na viola e cantou a primeira canção. Era uma das 32 que tinha para nos mostrar. Chamava-se "À Volta Do Rio". Abria assim a sessão de Sesimbra. Por ali passariam o Bernardo Barata dos Feromona, o Lipe dos Pontos Negros, o Guell dos Ninivitas, o Alexandre Mano dos Superego, o José Castro e o Tomás d’Os Quais. Apenas uma coisa se manteria estável. A promessa, em cada canção, de uma nova realidade".
Trecho retirado do texto “A Sessão de Sesimbra”, por Jorge Cruz

"A música do João Coração vai atrás da voz. Quem o acompanha instrumentalmente sabe que, acima de tocar, cabe-lhe ouvir. Nessa medida, falamos de escutar sopros, algo convenientemente bíblico. A música do Coração parece meiga mas impõe-se. Não sei se o pouco que dormimos, o mal que comemos mal (o Coração é vegetariano) e o mar que não experimentámos serão perceptíveis ao ouvinte. Sei que esta voz delicada me arrancou à força o décimo quinto disco da FlorCaveira".
Trecho retirado da apresentação de Tiago Guillul

Este primeiro disco de João Coração é o segundo disco da FlorCaveira a chegar às lojas. Pouco terá de Teologia e ainda menos de Panque-Roque (e só confirma o que alguns já sabiam: que a editora de Tiago Guillul nunca se esgotaria nesses preceitos do seu mentor). Este conjunto de 13 canções nasceu numa série bem maior, de 50. Corresponderá, porventura, ao abraçar de uma nova disciplina por parte de um criador com ligações prévias a outras formas de arte. E sobre as pontes entre umas e outras só o próprio poderá falar.

Ainda assim, este primeiro disco de João Coração quase não existia. Foi gravado há um ano (em universo acústico gerado por Jorge Cruz, Tiago Guillul e Samuel Úria, entre outros) e viveu desde então como um rumor. Nessa medida, como qualquer memória, deixou-se conquistar pelo tempo (e é quase insuportavelmente poético que termine, a cappella, por entre os silvos do vento). Mas as ideias felizes têm tendência a não se deixar vencer e há as que levam bem mais que doze meses até amadurecer tão bem.
Ao contrário da norma, não se discutirão aqui filiações estéticas e soluções formais. Parece-me mais relevante sublinhar o facto de estarmos a lidar com um conjunto de canções (vá lá, de estrutura pouco convencional) que surge instantaneamente seduzido pela voz de quem as canta. O que nem sempre é o caso. (A sua fluidez permanece irresolúvel; a gestão do tempo, as pausas e o ocasional refrão, tudo respira e conversa. Mas só na aparência estas melodias são acidentais). E se fará igualmente sentido relembrar a Canção enquanto organismo vivo, convirá não ignorar que a sua elasticidade não lhes retira temperamento. João Coração é habitado por isto mas disto tudo é cortesão. Por isso, também não valerá a pena escrutinar influências.

Como em tantos primeiros discos, suspendem-se os sonhos de criança e revelam-se os medos do homem – cada canção é um sacrifício. Mas não me parece que Coração receie que o mundo desapareça enquanto fecha os olhos – conhece bem a geografia que o encerra. As canções pintam paisagens, mas não as inventam. E levam o cantor desde terras pestíferas até ao abraçar da luz do sol. Nestes contos morais, esse é um quente conforto que só experimenta o senhor que não é senhor de si próprio. Agora chegou a hora de partir. E nem mesmo o acaso deveria ser deixado à sua sorte.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Ruben Alves em concerto (na Antena 2)


Na próxima sexta-feira, às 19h00, Ruben Alves estará no auditório da Fundação Portuguesa das Comunicações, no Concerto Aberto. A entrada é livre e o concerto terá transmissão em directo para a Antena 2. Mais informações, aqui.

High Places


Para ouvir basta aceder ao MySpace. Nada de complicado e, muito menos, nada do outro mundo. E em relação a Brooklyn, Roy Ayers é que tinha razão. Leiam e anotem: 10 de Dezembro no Passos Manuel, 11 de Dezembro na ZDB. O disco está a chegar às lojas.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Tim Hagans "Alone Together"



(Hagans, trompete; Marc Copland, piano; Drew Gress, contrabaixo; Jochen Ruckert, bateria) Continuação - porventura ainda mais poética e encantada - do trabalho apresentado em "Beautiful Lily", desenvolvida como uma ponte de refinamento estético com apropriado fim na sequência "You Don't Know What Love Is" (Raye-Paul), "Alone Together" (Dietz-Schwartz) e "Stella By Starlight" (Young), e princípio em assombrados originais de Marc Copland. Naturalmente, um não-lugar no jazz de hoje; e uma súbtil evocação do campo mítico em que se ajustam as contas do passado (não "com o passado").

Na crítica de Sábado passado (Expresso), Raul Vaz Bernardo em boa hora relembra Woody Shaw.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

The Sea and Cake "Car Alarm"



A chegar às lojas. Progressivamente mais seduzidos por uma ideia colectiva de Pop, os Sea and Cake chegam subitamente (e ao oitavo álbum! – após «The Sea and Cake», «Nassau», «The Biz», «The Fawn», «Oui», «One Bedroom» e «Everybody») cheios de pressa. E não é para menos. «Car Alarm» (até o título é urgente) é demasiado juvenil para ficar a amadurecer na gaveta. Que seja o “ponto de chegada” de uma banda com 15 anos é apenas uma prova de sabedoria. Porque a sua pop é cada vez mais um facto, mantendo-se sonhadora e culta em raro equilíbrio. Claro que ainda há por aqui juju e kraut, melodismo britânico e cançonetismo fim-de-século quintessencialmente norte-americano – mas soar cada vez mais a si mesmo é um luxo que poucos grupos de colheita indie vintage conseguirão exibir com tanta confiança.

John Corbett (crítico, galerista, editor, etc) apresenta-o neste texto.
Tema-título em MP3 gratuito: ouçam !

Ruben Alves no Expresso

Sábado passado, o Actual publicou um perfil de Ruben Alves:

sábado, 4 de outubro de 2008

Vinil I

Por estes dias, chegam às lojas novas edições em vinil de clássicos dos Funkadelic e Velvet Underground. Origem: VINYL LOVERS e 4MENWITHBEARDS.



Os Funkadelic são a possível resposta negra a uma combinação que nunca existiu: a dos Mothers Of Invention, de Frank Zappa, com os Can, numa genealogia que parte de Sly Stone, Jimi Hendrix ou Sun Ra e que se estende até Prince, Dr Dre ou Jimi Tenor. Seja como for, quando em 78, em One Nation Under A Groove, perguntavam “Who Says A Funk Band Can’t Play Rock?”, é óbvio que a questão seria meramente retórica. Afinal, há quase dez anos que demonstravam autoridade sobre o idioma. Criados para acompanhar outra banda de George Clinton - os Parliament – mostravam ao que vinham logo no título do seu segundo álbum: Free Your Mind… And Your Ass Will Follow. E por mais que uns Temptations comandados por Norman Whitfield sugerissem viajar para os astros, poucos revelavam igual domínio sobre as leis da gravidade. Maggot Brain é o terceiro LP dos Funkadelic, e aquele em que sintetizam melhor os seus interesses. A guitarra de Eddie Hazel funciona como motor, em enérgicas explosões, prismáticas emissões de luz e impulsiva combustão psicadélica. Por outro lado, equivalia tudo a uma colectiva exploração de um mundo revelado pelo LSD. Gritos lunáticos, mensagens subliminares, chamadas para viagens interplanetárias, ecos de um paraíso em que a única banda-sonora nasce de acordes tocados aleatoriamente por Hendrix, o toque de alvorada num mundo em que o sexo é tão comunitário quanto uma ida à igreja. O equivalente para a fisiologia auditiva às pretensões que, um ano antes, o filme Gas-s-s-s promulgava para a experiência cinematográfica: imagens que passem directamente no interior do olho humano.




Em 67 ninguém quis saber. Quando os Velvet chegaram a São Francisco incluídos no Exploding Plastic Inevitable, pareceram aos olhos dos hippies, segundo o cronista Charles Perry, “nothing but a self-consciously decadent rock group playing a mannered paraphrase of amateurish high school rock”. As canções falavam de drogas pesadas, que os californianos evitavam, e de perversões demasiado sérias para quem seguia o amor livre. Em Nova Iorque, a cidade em que se formaram, e eternamente associada à sua negra luz, a atenção não foi maior. A ligação a Warhol parece ter funcionado contra si. Quando apareceu uma editora pronta a editá-los, a ideia era que o nome do artista e a imagem de Nico bastariam – não foi bem assim. A História reviu-os isoladamente no panorama musical da década, mas encaixam-se numa linha de dissensão pressentida na bateria tribal dos Monks (Tucker também não utilizava os címbalos), no orientalismo de La Monte Young (que teria entre os acólitos John Cale), no uso da energia de uns Stooges e num tipo de experiências extra-musicais não distantes do sobressalto que viriam a promover os United States Of America. E também Scott Walker ou Jim Morrison cantavam sobre prostitutas e drogas. Nas canções de Lou Reed não se força a imaginação para ouvir rock’n’roll clássico e ecos da invasão britânica – afinal, “Run Run Run” era também um tema dos Who. Mas “Waiting For The Man”, “Venus In Furs” ou “Heroin” sobreviveram e distanciaram-se simultaneamente de tudo isto. E o que é certo é que fizeram mais sentido em 77. Em 87 estavam como peixe na água (o que, como todos sabem, quer dizer: HOJE).