BF - Obrigo-me a
ser o mais polivalente possível neste aspecto; quando estou a fazer uma canção
por um processo que nunca usei fico mais confiante de que o resultado vai ser
diferente do que eu já fiz antes. Às vezes começa pela letra, outras pela
música, outras ao mesmo tempo, pelo início, pelo meio, pelo fim, já houve
canções que começaram por ser uma ideia de forma, outras uma ideia de conteúdo,
outras sem ideia nenhuma.
TZ -Tem
um disco seu preferido ou responderá que a todos ama da mesma forma, como
filhos?
BF - De uma
maneira geral, gosto sempre mais do último que fiz, mas há discos pelos quais
tenho mais carinho que outros, mas claro que isso tem mais a ver com razões
pessoais que musicais.
TZ - Gostava
de saber quais são os músicos que mais admira. Três, ou quatro. E, se não
coincidirem, dois ou três cantores.
BF - É difícil
escolher assim no geral, mas se tentar concentrar-me na música em português
posso dizer que o Zeca e o Alfredo Marceneiro em Portugal e o João Gilberto e o
Caetano no Brasil são os quatro pontos cardeais do meu "manual da língua
cantada".
TZ - Para
além de influências puramente musicais, de que outras impressões estéticas, em
geral, e artísticas, em particular, retira inspiração para compor?
BF -
Principalmente da literatura. É fácil aprender com os grandes clássicos: são as
melhores lições de forma, língua, narração e narrador.
TZ - A
arte tem propósito ou é despropositada por natureza?
BF - A arte não
tem propósito. Começa e acaba em si: a leitura é que tem propósito. Apesar
disso, não considero a música pop uma arte, mas sim uma espécie de artesanato e
esse já tem um propósito: representar um espaço e um tempo (da humanidade)
muito curtos e com uma grande intensidade. Para que possa ser absorvido por
inteiro e ser substituído facilmente pelas gerações seguintes”
[excerto da entrevista].