“Súbito” simboliza todas as mudanças que me acontecem de uma forma repentina e que me transformam continuamente. É uma homenagem ao tempo, uma reconciliação. Ruben Alves
Julho de 2008 e o momento é este: por entre os ensaios diários para “CABARET” – de que é Director Musical – Ruben Alves aceitou o convite para integrar o grupo que acompanhou Mariza nas primeiras apresentações ao vivo do seu novo álbum.
Simultaneamente, grava para João Gil e mantém activo o Ruben Alves Trio (com Yuri Daniel e José Salgueiro) – dando descanso ao Ruben Alves Ensemble (Paulo Gaspar, Pedro Carneiro, Massimo Cavalli e Alexandre Frazão) e a um Duo com o vibrafonista Pedro Carneiro.
Frescas ainda na memória de todos os que seguem as programações televisivas nacionais estarão as suas participações na cerimónia dos “GLOBOS DE OURO” – interpretando, com António Rosado, uma versão para dois pianos da “Rhapsody in Blue”, de George Gershwin –, na última série da “OPERAÇÃO TRIUNFO” e, mais recentemente, em “À PROCURA DE SALLY”.
Não será nossa intenção começar pelo currículo, nem tornar este um caso modelar. O que se discute aqui não é mais que o quotidiano de um músico profissional português. Mas servirá como ponto de partida para se chegar a “SÚBITO”, este CD de que Ruben é titular e que marca o início da actividade da MBARI enquanto editora.
É que não serão muitos os casos de músicos que, por entre uma agenda tão obviamente sobrecarregada, insistam em desconstruir os discursos que os definem na esfera pública – tremendamente simplificadores e, na melhor das hipóteses, presos a pouco mais que uma “ideia forte”.
Julho de 2008 e o momento é este: por entre os ensaios diários para “CABARET” – de que é Director Musical – Ruben Alves aceitou o convite para integrar o grupo que acompanhou Mariza nas primeiras apresentações ao vivo do seu novo álbum.
Simultaneamente, grava para João Gil e mantém activo o Ruben Alves Trio (com Yuri Daniel e José Salgueiro) – dando descanso ao Ruben Alves Ensemble (Paulo Gaspar, Pedro Carneiro, Massimo Cavalli e Alexandre Frazão) e a um Duo com o vibrafonista Pedro Carneiro.
Frescas ainda na memória de todos os que seguem as programações televisivas nacionais estarão as suas participações na cerimónia dos “GLOBOS DE OURO” – interpretando, com António Rosado, uma versão para dois pianos da “Rhapsody in Blue”, de George Gershwin –, na última série da “OPERAÇÃO TRIUNFO” e, mais recentemente, em “À PROCURA DE SALLY”.
Não será nossa intenção começar pelo currículo, nem tornar este um caso modelar. O que se discute aqui não é mais que o quotidiano de um músico profissional português. Mas servirá como ponto de partida para se chegar a “SÚBITO”, este CD de que Ruben é titular e que marca o início da actividade da MBARI enquanto editora.
É que não serão muitos os casos de músicos que, por entre uma agenda tão obviamente sobrecarregada, insistam em desconstruir os discursos que os definem na esfera pública – tremendamente simplificadores e, na melhor das hipóteses, presos a pouco mais que uma “ideia forte”.
Ou seja, contrariando as expectativas, o que Ruben Alves arriscou fazer foi, num momento de intensa exposição mediática, sugerir uma outra visão: mais do que sobre aquilo que ele é, sobre aquilo que pode ser. Essa decisão revela uma complexidade que evita qualquer preocupação sobre questões de identidade ou de imagem. E obriga-nos a falar do mais importante: da Música.
Na origem de “SÚBITO” esteve um impulso muito simples: num momento de enérgica actividade formal, apresentar-se em dois recitais (no bar do Teatro A Barraca, a 1 de Março e 18 de Outubro de 2007), perante uma plateia de amigos e convidados, e improvisar livremente.
Nesse momento confluíram num mesmo fluxo novas ideias, memórias, figuras familiares, melodias mais ou menos conhecidas – daí Ruben nos falar de uma “homenagem ao tempo”. Na natureza do exercício reside a surpresa, todos sabemos. Mas nenhuma será maior do que a (quase total) ausência de elementos próximos do jazz neste disco.
Ainda que, na aparência, estas improvisações partilhem do espírito do género, na prática o que delas resulta é o emergir de uma meta-linguagem pianista com pontes óbvias para o que têm feito tantos músicos de jazz nos últimos anos (Marilyn Crispell, Paul Bley, Sylvie Courvoisier, Bernardo Sassetti, etc) e que aponta para o culto de um caminho progressivamente mais individual.
Duas influências como Keith Jarrett ou Brad Mehldau revelar-se-ão mais decisivas noutro contexto ou numa futura edição, mas por aqui pairam. Até porque, em “SÚBITO”, pressentem-se ainda afinidades com perfis mais clássicos, que identificaríamos suspensos entre o romantismo tardio e impressionismo do princípio do século passado (por exemplo, no que vai de Ravel a Debussy) e o modernismo moderado na obra para piano de compositores como Samuel Barber, Manuel de Falla ou Heitor Villa-Lobos. Daí ao minimalismo ou à “Música Callada” de Mompou será um pequeno passo.
Claro que é meramente retórico, neste contexto, reduzir seja o que for à soma das suas influências. As especulações são nossas, enquanto editores, e funcionaram mais como uma base sobre a qual estabelecer com o Ruben um diálogo que, objectivamente, pudesse culminar na escolha do repertório, no alinhamento, na definição dos títulos dos temas e na própria arte gráfica da edição.
Ainda que, na aparência, estas improvisações partilhem do espírito do género, na prática o que delas resulta é o emergir de uma meta-linguagem pianista com pontes óbvias para o que têm feito tantos músicos de jazz nos últimos anos (Marilyn Crispell, Paul Bley, Sylvie Courvoisier, Bernardo Sassetti, etc) e que aponta para o culto de um caminho progressivamente mais individual.
Duas influências como Keith Jarrett ou Brad Mehldau revelar-se-ão mais decisivas noutro contexto ou numa futura edição, mas por aqui pairam. Até porque, em “SÚBITO”, pressentem-se ainda afinidades com perfis mais clássicos, que identificaríamos suspensos entre o romantismo tardio e impressionismo do princípio do século passado (por exemplo, no que vai de Ravel a Debussy) e o modernismo moderado na obra para piano de compositores como Samuel Barber, Manuel de Falla ou Heitor Villa-Lobos. Daí ao minimalismo ou à “Música Callada” de Mompou será um pequeno passo.
Claro que é meramente retórico, neste contexto, reduzir seja o que for à soma das suas influências. As especulações são nossas, enquanto editores, e funcionaram mais como uma base sobre a qual estabelecer com o Ruben um diálogo que, objectivamente, pudesse culminar na escolha do repertório, no alinhamento, na definição dos títulos dos temas e na própria arte gráfica da edição.
Muito cedo, nasceu nessas conversas a noção de que o resultado final deveria corresponder a uma ideia de VIAGEM. Com o auxílio de elementos visuais (há fotografias neste CD tiradas na China e na Índia), a selecção e construção desta narrativa sonora teve quase procedimentos cinematográficos. Atente-se aos títulos e parte desta intenção complementará (entre referências que também são musicais à Ásia e ao Médio-Oriente, como em “Tsuru” ou “Levante”) outras, eminentemente mais biográficas (“Cinémathèque”) e íntimas (“Luz”).
Por tudo isto também, no texto do Catálogo de Verão da Fnac (que a este projectos se associou enquanto distribuidor), falávamos de “uma imaginária banda-sonora para uma viagem a solo, cruzando elementos de raiz popular com inesperadas influências”.
Mas há, inevitavelmente, e por mais que tentemos tudo analisar em meia dúzia de linhas, ainda uma dimensão de mistério nesta música – nestes esboços. A que não será alheia a sua capacidade de comunicar e inspirar. Igualmente, a maneira em como muito do que aqui se passa parece perfeitamente coerente e calculado adensa o segredo da sua própria génese – quando teve origem em gravações separadas por mais de seis meses e em duas noites em que Ruben chegou ao piano sem uma pauta e sem um gesto planeado.
Além de que, ouvindo com atenção, pressentem-se outros diálogos: a começar pelo de Ruben com o piano (ouvem-se cordas percutidas, o pedal, a madeira) e a culminar naquilo que a sua voz canta e o que os seus dedos tocam, com espaço para o aleatório (o ranger do banco, o público, as janelas abertas, o trânsito no exterior da sala) e permeável ao que o seu ambiente proporcionava.
Nas muitas histórias de “SÚBITO”, até a escolha da capa parece reflectir essa viagem que o músico sabe fazer só, ainda que com a proximidade e cumplicidade do seu público. Mas nada começa nem acaba em “SÚBITO” – este é apenas o ponto convergente e divergente. E há muito ainda a fazer.
NOTAS BIOGRÁFICAS E CURRICULARES:
Estudos de piano desde os 8 anos. Curso Geral de Música no Instituto Gregoriano. Formação em música improvisada com Mário Laginha e João Paulo Esteves da Silva. Frequência da L’Aula de Barcelona da Berklee College of Music. Interpretações improvisadas nos Ciclos de Cinema Mudo da Cinemateca Portuguesa. Professor e pianista na “OPERAÇÃO TRIUNFO”. Participação no filme “FADOS” de Carlos Saura. Recitais com o poeta Carlos Mota de Oliveira e Janita Salomé. Rubrica de espectáculos “Cantores Improváveis”, no Teatro Maria Matos, com Nicolau Santos, Margarida Pinto Correia, Maria Rueff, Conceição Lino, entre outros. Participações em discos ou espectáculos de Amélia Muge, António Chaínho, Camané, Fausto, João Gil, Mafalda Arnauth, Mafalda Veiga, Maria João, Mariza, Rui Veloso, Sara Tavares, Sérgio Godinho, Vitorino, entre outros. Comissão pela Valentim de Carvalho de um primeiro CD “Paixão – Ruben Alves toca Rui Veloso”. Edição de um segundo CD, “Clara Madrugada”, produzido por Pedro Osório e com a participação de Ricardo Rocha na guitarra portuguesa.
Alinhamento:
1. Alvorada (3:00) 2. Tsuru (7:19) 3. Levante (4:04) 4. Quadra (4:23) 5. Lídia (4:04) 6. Oleiros (5:24) 7. Caravana (5:03) 8. Súbito (4:09) 9. Cinémathèque (4:43) 10. Vozes (5:18) 11. Luz (2:30)
Ficha Técnica
Gravado ao vivo por Samuel Nascimento a 1 de Março e 18 de Outubro de 2007 no bar do Teatro “A Barraca”, em Lisboa Misturado em Vale de Lobos Estúdio por Rui Guerreiro Masterizado por Christian Guggenbühl Fotografia: Cláudio Garrudo, Susana Pimpão e Alexandra Libanio Design: Travassos Produção: Ruben Alves (www.myspace.com/alvesruben) Produção Executiva: Mbari
Por tudo isto também, no texto do Catálogo de Verão da Fnac (que a este projectos se associou enquanto distribuidor), falávamos de “uma imaginária banda-sonora para uma viagem a solo, cruzando elementos de raiz popular com inesperadas influências”.
Mas há, inevitavelmente, e por mais que tentemos tudo analisar em meia dúzia de linhas, ainda uma dimensão de mistério nesta música – nestes esboços. A que não será alheia a sua capacidade de comunicar e inspirar. Igualmente, a maneira em como muito do que aqui se passa parece perfeitamente coerente e calculado adensa o segredo da sua própria génese – quando teve origem em gravações separadas por mais de seis meses e em duas noites em que Ruben chegou ao piano sem uma pauta e sem um gesto planeado.
Além de que, ouvindo com atenção, pressentem-se outros diálogos: a começar pelo de Ruben com o piano (ouvem-se cordas percutidas, o pedal, a madeira) e a culminar naquilo que a sua voz canta e o que os seus dedos tocam, com espaço para o aleatório (o ranger do banco, o público, as janelas abertas, o trânsito no exterior da sala) e permeável ao que o seu ambiente proporcionava.
Nas muitas histórias de “SÚBITO”, até a escolha da capa parece reflectir essa viagem que o músico sabe fazer só, ainda que com a proximidade e cumplicidade do seu público. Mas nada começa nem acaba em “SÚBITO” – este é apenas o ponto convergente e divergente. E há muito ainda a fazer.
NOTAS BIOGRÁFICAS E CURRICULARES:
Estudos de piano desde os 8 anos. Curso Geral de Música no Instituto Gregoriano. Formação em música improvisada com Mário Laginha e João Paulo Esteves da Silva. Frequência da L’Aula de Barcelona da Berklee College of Music. Interpretações improvisadas nos Ciclos de Cinema Mudo da Cinemateca Portuguesa. Professor e pianista na “OPERAÇÃO TRIUNFO”. Participação no filme “FADOS” de Carlos Saura. Recitais com o poeta Carlos Mota de Oliveira e Janita Salomé. Rubrica de espectáculos “Cantores Improváveis”, no Teatro Maria Matos, com Nicolau Santos, Margarida Pinto Correia, Maria Rueff, Conceição Lino, entre outros. Participações em discos ou espectáculos de Amélia Muge, António Chaínho, Camané, Fausto, João Gil, Mafalda Arnauth, Mafalda Veiga, Maria João, Mariza, Rui Veloso, Sara Tavares, Sérgio Godinho, Vitorino, entre outros. Comissão pela Valentim de Carvalho de um primeiro CD “Paixão – Ruben Alves toca Rui Veloso”. Edição de um segundo CD, “Clara Madrugada”, produzido por Pedro Osório e com a participação de Ricardo Rocha na guitarra portuguesa.
Alinhamento:
1. Alvorada (3:00) 2. Tsuru (7:19) 3. Levante (4:04) 4. Quadra (4:23) 5. Lídia (4:04) 6. Oleiros (5:24) 7. Caravana (5:03) 8. Súbito (4:09) 9. Cinémathèque (4:43) 10. Vozes (5:18) 11. Luz (2:30)
Ficha Técnica
Gravado ao vivo por Samuel Nascimento a 1 de Março e 18 de Outubro de 2007 no bar do Teatro “A Barraca”, em Lisboa Misturado em Vale de Lobos Estúdio por Rui Guerreiro Masterizado por Christian Guggenbühl Fotografia: Cláudio Garrudo, Susana Pimpão e Alexandra Libanio Design: Travassos Produção: Ruben Alves (www.myspace.com/alvesruben) Produção Executiva: Mbari