segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Novidades da Cam Jazz

É começar a procurá-las, porque como estas não há muitas.

Será, de certa forma, um disco ansiado pelos amantes de Scarlatti. E, por cá, já se sabe, o mestre de cravo de Dona Maria Bárbara de Bragança tem seguidores mais fervorosos. Pieranunzi, pianista de jazz e de música clássica, faz aquilo que o compositor pedia no prefácio dos seus "Essercizi": "Leitor (...) não procures nestas composições uma intenção profunda, mas sim uma forma engenhosa de brincar com a arte (...) mostra-te mais humano que crítico". Mas, resistindo à tentação de jazzificar as sonatas, improvisa utilizando apenas os elementos que as constituem. Numa negação do ego - oposta por exemplo há de Uri Caine - não procura uma síntese entre mundos mas apenas iluminar mais o de Scarlatti.

A Jazzman percebeu: "La liberté est au fondement même de chaque pièce, recelant une ou plusieurs atmosphères particulières traduites par un geste, une couleur ou une qualité d’émotion propres. Cette même liberté régit le lien entre les sonates et les improvisations. Fréquemment, la composition est d’abord interprétée avant de faire l’objet d’un éloignement progressif (jeux rythmiques, décalages, variations harmoniques…) suivi d’un retour au texte. Ailleurs, Pieranunzi nous conduit habilement jusqu’au XXe siècle en prenant prétexte d’une petite cellule descendante en notes répétées pour faire allusion à Bartók et Prokofiev. Certaines sonates sont interprétées telles qu’en elles-mêmes, sans le moindre commentaire ou la moindre introduction improvisée. On admirera le respect absolu de l’intégrité des textes originaux, que Pieranunzi traite en pianiste gouldien plutôt qu’en claveciniste, généreux sur les contrastes dynamiques et la mise en valeur des appuis rythmiques (K492). On admire tout autant – mais on la connaissait déjà – sa maîtrise d’une exploration spontanée, aussi expressive que rigoureuse".

Não servirá para o habitual elogio - não nos interessa a tendência dominante nos media de concentrar atenções quase exclusivamente nos muito novos ou nos muito velhos - mas não se compreenderão estes "On Green Dolphin Street", "Lover Man", "'Round Midnight" ou "Corcovado" ignorando os 81 anos de Solal. Porque a sua rara clarividência harmónica vem do trabalho com o tempo. E não será por outro motivo que o NY Times então tratou a sessão no Village Vanguard como um dos "jazz events of the year".

Trio de câmara próximo daquilo que há uns meses Alexander von Schlippenbach, Daniel D'Agaro e Tristan Honsinger produziram em “Friulian Sketches” (na Psi), mas neste particular - e quem esteve no último Jazz em Agosto relembrará essa tendência da actuação de Courvoisier e Courtois - com inclinações mais românticas. Eskelin, abençoado, está naquele ponto de domínio formal e harmónico do sublime "Vanishing Point" (também aí com cordas, na hatOLOGY) e, neste contexto, funciona como um suave braseiro.