quarta-feira, 30 de novembro de 2011
terça-feira, 29 de novembro de 2011
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Agustí Fernández no BODYSPACE
Escreve Nuno Catarino: “Neste disco Agustí Fernández desenvolve uma música baseada em motivos (subconscientemente?) interiorizados, que são laboriosamente transformados em matéria nova. Desvinculando-se das suas típicas estratégias oblíquas e alta intensidade, o catalão opta por uma suave linearidade, assumindo um discurso sólido, ancorado numa permanente subtileza, contenção e controlo”.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Agustí Fernández "El laberint de la memòria" (another couple of impressive reviews)
On Free Jazz, Stef writes “It is romantic and lyrical, but because he refrains from adding too much context or excessive ornaments, the overall sound results in one of sober warmth. Beautiful” and on Gapplegate Music Review, Grego Applegate Edwards says that “It gives you a front row seat for an impressively, eclectically inventive piano recital”.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Jorge Cruz no i
Num excerto da entrevista de Maria Ramos Silva, Jorge Cruz diz: “Até aos 8, 9 anos, apaixonei-me pela música, foi o boom da MTV. Não que a tivéssemos, mas víamos os telediscos pela primeira vez nos programas do Álvaro Costa. Foi a primeira vez que vi o Boy George. Saiu o disco do Mick Jagger, o “Purple Rain” do Prince. Era um mundo mágico. Quando fui para Angola não tinha nada. Estava já motivado e não tinha acesso".
O que se ouvia lá?
"Na rádio ouvia-se os Kassav, os Tubarões, um bocadinho de Lionel Richie e Michael Jackson. Era música dançável, de farra. Tinhas o recolher obrigatório. Quando a malta ia para casa de alguém numa festa dessas tinha que lá ficar até de manhã. Nós miúdos ficávamos a dançar e adormecíamos lá num canto. Então a minha avó mandava as TV Guia para a minha mãe, uma vez por mês, e aquilo tinha o top disco. Foi aí que comecei a fazer canções. Só conhecia os títulos e então inventava as melodias".
O que se ouvia lá?
"Na rádio ouvia-se os Kassav, os Tubarões, um bocadinho de Lionel Richie e Michael Jackson. Era música dançável, de farra. Tinhas o recolher obrigatório. Quando a malta ia para casa de alguém numa festa dessas tinha que lá ficar até de manhã. Nós miúdos ficávamos a dançar e adormecíamos lá num canto. Então a minha avó mandava as TV Guia para a minha mãe, uma vez por mês, e aquilo tinha o top disco. Foi aí que comecei a fazer canções. Só conhecia os títulos e então inventava as melodias".
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
B Fachada "B Fachada" (Texto de Apresentação)
Nas lojas a 2 de Dezembro
Concerto de lançamento em Lisboa:
Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, no dia 21 de Dezembro, pelas 21h00. Bilhetes já à venda!
Outras datas:
3 Dezembro – Teatro Viriato, Viseu (2 concertos com banda: às 16h00, para crianças, apresentação de "B Fachada é Pra Meninos"; às 21h30, concert para o público geral)
6 e 7 de Dezembro - Culturgest, Porto (dois concertos em piano solo)
9 Dezembro – Café-Concerto do Centro Cultural Vila Flor (solo, apresentação de "B Fachada")
Sob o pretexto de gerir expectativas de confessionalismo nas suas letras, B Fachada transforma com frequência biografia em alegoria. E essa acaba por ser uma recorrente linha de força nos textos em que apresentamos os seus discos. E sublinhamos habitualmente aqueles momentos em que B Fachada, mais do que compositor e intérprete, é antes, como tantas outras, uma personagem com vida independente dentro das (suas) canções. A administração deste dispositivo, mais do que sarcástica, revela essencialmente uma estratégia que enfatiza uma das problemáticas da música popular e emprega o paradoxo enquanto veículo para a desconstrução – ou, no mínimo, exposição – das convenções que lhe estão associadas. É, também, embora longe de única, uma forma peculiar de comunicar ideias àqueles que o ouvem. Porque o equilíbrio entre o real e o fictício, ao longo destes quatro anos em que o Bernardo se impôs como um caso à parte no meio artístico português, transformou-se num traço de identidade tão celebrado quanto os seus recursos estilísticos. A opção de não nomear o seu quarto álbum – ou, como no disco de Dezembro de 2009, permitir-lhe novamente a designação de “B Fachada” – é, como se costuma dizer, uma espécie de enigma dentro de outro.
E, no entanto, se podemos afirmar que este “B Fachada” é, à primeira vista, o que se presta claramente a uma leitura autobiográfica, a verdade é que se dá mais o caso de nele encontrarmos a personagem em busca do seu autor. Isto é, aparentemente, tratar-se-ia de tentar desvendar o mistério da criação e da origem – ou de lhe encontrar sentido – numa visita guiada pelo mais privilegiado dos intermediários. Por isso logo se poderia concluir que, ainda mais do que no passado, tudo aqui seria sobre Fachada. Mas o facto é que a audição destas canções desmente a asserção. Porque, como tantas vezes se provou, há momentos em que o artista olha para dentro apenas para encontrar o outro. Assim – embora, como sempre, possam estas canções ganhar vida e razão longe desta ideia –, a menor das ilusões em torno deste “B Fachada” é a de que, mais do que método, inspiração ou moral, lhe interessa falar sobre a sua musa. Talvez por isso soe tão humilde, ainda que nada comprometa em termos de arrojo estético: porque será evidente que aplica aqui inusitadas soluções formais e dá uso a técnicas que contrariam a actual agenda da produção discográfica, e, mais uma vez, ninguém poderá negar a crescente maturidade com que lida com os materiais à sua disposição. Mas, com a naturalidade daqueles que nada têm a provar, a transparência com que apresenta num mesmo plano a arte, o objecto e o meio dá livre acesso a um ideário que noutros momentos traduziu em parábola e que agora aparenta partilhar em discurso directo.
Nessa perspectiva, não se pense que abandona o assunto que mais se discutiu por alturas de “Deus, Pátria e Família”. Pelo contrário, aprofunda-o. Porque tal como o narrador desse tema de 20 minutos, também aqui se encontra no pessoal, e não no colectivo, o cenário para a mais política das transformações: a do indivíduo. Aquele que – descodificando imagem pública – em ‘Roupa de Estrada’ canta “Quem me deu as mentiras para ser eu/ Vou tentando ser decente/ Num Fachada bem diferente do meu” ou em ‘Não Pratico Habilidades’ diz “Podes fazer o que quiseres/ Eu deixo gozar comigo por não ser cantor” para acrescentar “Canto a minha pirosada/ Para te chegar ao calcanhar”. Aliás, muito deste disco é, em última análise, uma reflexão sobre o juízo e a crítica, permeável à opinião alheia e capaz de responder com clareza a apreciações favoráveis ou desfavoráveis. É só mais uma camada de significados para esse diálogo cantar em ‘Sozinho no Róque’ que está “Mais a rimar, nem tanto a ser poeta/ A dominar a música discreta” ou, de novo em ‘Roupa de Estrada’, fazer referência ao seu ciclo semestral de edições e à própria natureza deste novo CD com a frase “Nunca um tema foi eterno/ Tudo volta a ser moderno/ Ponho aquele meu tom mais terno/ Nasce um disco, amor, para ouvires no teu inverno”.
Depois há, com a ligeireza e acessibilidade de sempre, vinhetas da vida privada, como o “Ponho as gotas no cabelo/ E uma reza eficaz” de ‘Cantar o Apelo’, o “Tu trabalhas junto a mim até te dar o sono/ Eu só durmo quando enfim a cantiga já tem dono” de ‘Os 2 no Polibã’ ou o “Vens ouvi-lo a dizer coisas/ Que dão a entender/ Que isto assim contigo é que é viver” de ‘Barriga pelo Amigo’. E, inevitavelmente, a menção a um ambiente musical em que se percebem umas coisas enquanto outras permanecem duvidosas, desta feita sintetizada num ‘Está na Hora da Passa’ em que se afirma que “Quando o dia desenlaça/ Está na hora da passa/ Fica tudo com mais graça/ Excepto a prenda de Alcobaça” e se dedica estes versos aos meninos e meninas da Cafetra que, em estúdio, marcaram com palmas o ritmo: “Fazem mal a coisa certa/ Há que ouvir o tio careca/ Porque a barba mal desperta/ É preciso andar para a Fetra”. Mas é quando cai o pano sobre o disco que mais ele se revela, com a dedicatória de ‘Mané-Mané’ (“Já não basta todo o dia a levar com a guitarrada/ Vai, faz um disco só sobre ti”) e, escondido em fundo tropical, o conselho “Quando acaba a cantoria/ Parece fácil, é magia/ Mas não basta uma certa piada/ Para ser o B Fachada// Tentas muito compreender/ O que acabou de acontecer/ Se ainda assim eu não consigo te agradar, então/ Usa a vida para viver/ Usa a vida para viver/ Usa a vida para viver/ Usa a vida para viver”.
Como é costume, nada é bem o que parece. E, mais uma vez, sem poder ter outra origem, soa diferente um disco novo de B Fachada em que permanece a ambição de explorar os limites da sua linguagem. Num universo autoral progressivamente mais distinto, ensaia – numa monumental balada, num solene refrão, num inusitado solo de guitarra, num obtuso efeito no piano, numa captação vocal inédita, em mil e uma vozes, num estranho interlúdio instrumental, numa citação de um tema de Norberto Lobo que lança para o cosmos – algo de semelhante ao que fez em “B Fachada é Pra Meninos”: quanto mais joga com arquétipos, maior a sua recusa do normativo.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Jorge Cruz "Barra 90" (Apresentação)
Praia da Barra (99)
Acho que esta canção foi feita propositadamente para as gravações caseiras d’“o pequeno aquiles”, em 99. Tinha um Fostex de quatro pistas no quarto de hóspedes da casa dos meus avós, que nessa altura se encontrava à venda. A casa ao lado, dos meus pais, onde cresci, tinha sido vendida um ou dois anos antes. Ali a 100 metros, junto à ria, havia um pontão para os barcos pequenos atracarem onde era costume ir sentar-me durante o ano, quando tudo estava silencioso, ou no Verão, para fugir ao rebuliço dos banhistas. O local parecia reter a simplicidade de uma infância desaparecida. A família saiu em definitivo da Barra no fim dos anos 90.
Acho que esta canção foi feita propositadamente para as gravações caseiras d’“o pequeno aquiles”, em 99. Tinha um Fostex de quatro pistas no quarto de hóspedes da casa dos meus avós, que nessa altura se encontrava à venda. A casa ao lado, dos meus pais, onde cresci, tinha sido vendida um ou dois anos antes. Ali a 100 metros, junto à ria, havia um pontão para os barcos pequenos atracarem onde era costume ir sentar-me durante o ano, quando tudo estava silencioso, ou no Verão, para fugir ao rebuliço dos banhistas. O local parecia reter a simplicidade de uma infância desaparecida. A família saiu em definitivo da Barra no fim dos anos 90.
Um de Nós (96)
Esta foi a primeira canção minha que ouvi passar na rádio. Tinha feito os envios do disco de estreia dos Superego (“Quem Concebeu o Mundo Não Lia Romances”, 98) e pus-me a ouvir o “100%”. O Henrique Amaro abriu o programa com este tema. Não foi uma boa sensação – tudo estava demasiado exposto. Eu não soava como os cantores das outras bandas nem nós tocávamos ou gravávamos bem as nossas músicas como as outras bandas. Ainda assim, a canção sobreviveu. Para este “Barra 90” decidi brincar com ela tratando-a como uma malha à Timbaland em honra da pop para massas que me fez inicialmente apaixonar pelo mundo das canções.
Tornados (98)
Esta canção de dois acordes na sua versão original (gravada para “o pequeno aquiles”) procurava juntar referências da altura: os Palace de “Arise Therefore”, Smog e Red House Painters. Dedilhava-a muito lentamente e quase nem parecia ali haver música. De certo modo, acho que a canção que existia por trás daquelas notas esparsas seria algo próximo do que aqui gravámos. Sendo que na verdade só soou a música a sério quando pusemos o estúdio às escuras e a Márcia cantou baixinho.
Entre Iguais (93)
Quando comecei a escrever canções procurava temas mais genéricos do que os que viria a utilizar mais tarde. Não conhecia canções sobre amor homossexual e escrevi esta inspirando-me num amigo gay da minha irmã que era daqueles fãs de Madonna que iam a Paris ou a Madrid na tour do “Erotica” e dormiam na rua junto aos hotéis onde ela ficava. Numa fase anirvanada dos Superego tocávamo-la em locais hostis e eu e o baixista dávamos um beijo na boca – o público ficava enraivecido. Com esse historial de provocação era a canção certa para o Fachada. Ele tocou em todas as músicas deste disco e fez um brilhante trabalho de co-produção, mas só podia cantar aqui.
Filipa, NY/T-Shirt (95)
‘T-shirt’ foi uma espécie de epifania no repertório de Superego. Como é que seria possível falar do mundo a partir de um quarto fechado? Esta canção parecia responder à questão. Quase tudo nesta altura era uma espécie de adiamento do mundo, de fechamento, de agorafobia. O maior contraste em relação a esse sentimento era a vida da minha irmã, que acabara de partir para Nova Iorque com o sonho de se tornar uma actriz famosa. Um dia recebi pelo correio uma cassete que ela me tinha gravado com os sons à sua volta. Nesta nova versão decidi usá-los, juntando ao quarto fechado da ‘T-shirt’ o restaurante português em Manhattan onde ela trabalhava, e a sábia Luzia, que lhe explicava o que era preciso para se ser alguém ali.
36 (94)
Quando estava a decidir que canções regravar para este disco fui ouvir cassetes antigas, de ensaios, maquetas e ideias dispersas, e encontrei esta, de que me tinha já esquecido. O que me interessou nesta música com um estranho título foi ter existência prévia à minha primeira audição de Will Oldham e da sua maneira única de escarrapachar em canções histórias perversas e misteriosas que não se chegavam bem a entender. Lembro-me de na altura me identificar em imediato com esse universo. Não foi preciso imitá-lo – há algum tempo que as coisas me estavam a sair de maneira algo semelhante.
Exausto (97)
Esta era mais uma daquelas canções de Superego que não cabia na nossa indecisão entre sermos uma banda de rock emocional, de funk à “In Sound From Way Out” (Beastie Boys) ou de trad-roque. Obviamente foi parar a “o pequeno aquiles” mas não perdeu o seu marco no discurso daquele tempo. Aqui foi salva por uma bateria do David Pires que ao apontar para Tom Waits acertou no Peter Gabriel circa “So”. Quanto aos coros à Annie Lennox, peço desculpa, mas não consegui resistir.
Roupas - parte 1 (97)
‘Roupas’ é uma sequela de ‘Exausto’ – a melodia é a mesma. Esta, sim, foi usada para fechar o primeiro disco de Superego. Juntei-lhe “parte 1” porque a SPA não aceitou o título, que já existia. E assim tornou-se numa prequela de ‘Roupas (parte 2)’, que fecha o meu primeiro disco a solo, “Sede”, de 2004. O feedback que se lhe segue podia ser o único som de toda esta viagem ao passado. Numa canção do “Love & Theft” [‘Summer Days’] alguém diz à personagem principal “You can’t repeat the past”, e a voz do Dylan responde: “You can’t? What do you mean you can´t? Of course you can”. Mas não sem a sensação de estar a repisar um longo e tortuoso caminho.
Lugar Privado (98)
Esta foi sempre a minha canção preferida de Superego. Na versão original havia um solo de guitarra eléctrica que tentava imitar o Mark Kozelek a imitar o Neil Young. Aqui a magia é toda do Fachada. Eu limitei-me a fazer de claque e a juntar um feedbackzinho no fim.
Esta foi a primeira canção minha que ouvi passar na rádio. Tinha feito os envios do disco de estreia dos Superego (“Quem Concebeu o Mundo Não Lia Romances”, 98) e pus-me a ouvir o “100%”. O Henrique Amaro abriu o programa com este tema. Não foi uma boa sensação – tudo estava demasiado exposto. Eu não soava como os cantores das outras bandas nem nós tocávamos ou gravávamos bem as nossas músicas como as outras bandas. Ainda assim, a canção sobreviveu. Para este “Barra 90” decidi brincar com ela tratando-a como uma malha à Timbaland em honra da pop para massas que me fez inicialmente apaixonar pelo mundo das canções.
Tornados (98)
Esta canção de dois acordes na sua versão original (gravada para “o pequeno aquiles”) procurava juntar referências da altura: os Palace de “Arise Therefore”, Smog e Red House Painters. Dedilhava-a muito lentamente e quase nem parecia ali haver música. De certo modo, acho que a canção que existia por trás daquelas notas esparsas seria algo próximo do que aqui gravámos. Sendo que na verdade só soou a música a sério quando pusemos o estúdio às escuras e a Márcia cantou baixinho.
Entre Iguais (93)
Quando comecei a escrever canções procurava temas mais genéricos do que os que viria a utilizar mais tarde. Não conhecia canções sobre amor homossexual e escrevi esta inspirando-me num amigo gay da minha irmã que era daqueles fãs de Madonna que iam a Paris ou a Madrid na tour do “Erotica” e dormiam na rua junto aos hotéis onde ela ficava. Numa fase anirvanada dos Superego tocávamo-la em locais hostis e eu e o baixista dávamos um beijo na boca – o público ficava enraivecido. Com esse historial de provocação era a canção certa para o Fachada. Ele tocou em todas as músicas deste disco e fez um brilhante trabalho de co-produção, mas só podia cantar aqui.
Filipa, NY/T-Shirt (95)
‘T-shirt’ foi uma espécie de epifania no repertório de Superego. Como é que seria possível falar do mundo a partir de um quarto fechado? Esta canção parecia responder à questão. Quase tudo nesta altura era uma espécie de adiamento do mundo, de fechamento, de agorafobia. O maior contraste em relação a esse sentimento era a vida da minha irmã, que acabara de partir para Nova Iorque com o sonho de se tornar uma actriz famosa. Um dia recebi pelo correio uma cassete que ela me tinha gravado com os sons à sua volta. Nesta nova versão decidi usá-los, juntando ao quarto fechado da ‘T-shirt’ o restaurante português em Manhattan onde ela trabalhava, e a sábia Luzia, que lhe explicava o que era preciso para se ser alguém ali.
36 (94)
Quando estava a decidir que canções regravar para este disco fui ouvir cassetes antigas, de ensaios, maquetas e ideias dispersas, e encontrei esta, de que me tinha já esquecido. O que me interessou nesta música com um estranho título foi ter existência prévia à minha primeira audição de Will Oldham e da sua maneira única de escarrapachar em canções histórias perversas e misteriosas que não se chegavam bem a entender. Lembro-me de na altura me identificar em imediato com esse universo. Não foi preciso imitá-lo – há algum tempo que as coisas me estavam a sair de maneira algo semelhante.
Exausto (97)
Esta era mais uma daquelas canções de Superego que não cabia na nossa indecisão entre sermos uma banda de rock emocional, de funk à “In Sound From Way Out” (Beastie Boys) ou de trad-roque. Obviamente foi parar a “o pequeno aquiles” mas não perdeu o seu marco no discurso daquele tempo. Aqui foi salva por uma bateria do David Pires que ao apontar para Tom Waits acertou no Peter Gabriel circa “So”. Quanto aos coros à Annie Lennox, peço desculpa, mas não consegui resistir.
Roupas - parte 1 (97)
‘Roupas’ é uma sequela de ‘Exausto’ – a melodia é a mesma. Esta, sim, foi usada para fechar o primeiro disco de Superego. Juntei-lhe “parte 1” porque a SPA não aceitou o título, que já existia. E assim tornou-se numa prequela de ‘Roupas (parte 2)’, que fecha o meu primeiro disco a solo, “Sede”, de 2004. O feedback que se lhe segue podia ser o único som de toda esta viagem ao passado. Numa canção do “Love & Theft” [‘Summer Days’] alguém diz à personagem principal “You can’t repeat the past”, e a voz do Dylan responde: “You can’t? What do you mean you can´t? Of course you can”. Mas não sem a sensação de estar a repisar um longo e tortuoso caminho.
Lugar Privado (98)
Esta foi sempre a minha canção preferida de Superego. Na versão original havia um solo de guitarra eléctrica que tentava imitar o Mark Kozelek a imitar o Neil Young. Aqui a magia é toda do Fachada. Eu limitei-me a fazer de claque e a juntar um feedbackzinho no fim.
Jorge Cruz, Outubro de 2011
Nota biográfica:
Jorge Cruz começou a compor em 1990. Nascido em 1975, viveu até aos 10 anos na Praia da Barra, Aveiro. No ano de 1985 mudou-se para o Lobito, Angola, onde fez o primeiro ano do ciclo preparatório. Regressou a Aveiro no ano seguinte. Entre 1989 e 1991 viveu em Almada. Regressou à Praia da Barra onde viveu até 1998, altura em que se mudou para o Porto. Em 2006 passou a viver em Lisboa. Com os Superego editou “Quem Concebeu o Mundo Não Lia Romances” (1998) e “A Lenda da Irresponsabilidade do Poeta” (2001). Em 1999 editou um disco gravado em 4 pistas sob o nome de “o pequeno aquiles”. A solo editou “Sede” (2004) e “Poeira” (2007) de onde se retiraram singles que ganharam popularidade como “Adriana”, “Fado de Uma Rua Qualquer”, “Nada” ou “Anda Menina”. Em 2008 fundou os Diabo na Cruz e um ano mais tarde a banda estreou-se com “Virou!”. O disco foi considerado um marco na música nacional pela forma como integrou sonoridades de música tradicional e de rock contemporâneo. Desde então o grupo tem-se destacado pelos concertos explosivos, perto de 100 por todo o país no espaço de dois anos. Produziu discos dos Golpes, dos Pontos Negros e de João Só e os Abandonados. Co-produziu discos de B Fachada e de João Coração. Participou em discos de More República Masónica, de Tiago Guillul e de Samuel Úria. Escreveu letras para discos de Movimento e Amor Electro. Ultimamente tem-se dedicado exclusivamente à composição para o segundo disco de Diabo na Cruz.
Subscrever:
Mensagens (Atom)