Poucos terão dado por ele antes de “The Blues and the Greys” (1997) e “After Hours” (1999), e de facto só agora chega a prova de que as referências a uma primeira obra perdida no tempo (“Artful Dodger" de 1987) não iriam para sempre esgotar preâmbulos biográficos ávidos de factos. Tudo porque ainda admirava que um pianista que nos seus anos de formação acompanhou ao vivo gente como Buddy DeFranco, Curtis Fuller, James Moody, Dewey Redman ou James Spaulding tivesse demorado tanto a chegar a estúdio. O gesto não terá sido calculado, mas contribuiu para uma reacção crítica pronta a celebrar nada menos que uma aparição. E a ideia de que ouvi-lo ao piano era como presenciar uma sessão espírita foi-lhe deixando pouca margem de manobra. Carrothers reagiu com humor – e da solenidade de quem dançava por entre fantasmas (não só os da Guerra Civil Norte-Americana, que revisita frequentemente, como em “Civil War Diaries”, de 2005) passou sem passar pela casa de partida à celebração de um sentido prático que por pouco não o reduziu a funções estritamente espirituosas (como em “Keep Your Sunny Side Up”, de 2007). Mas o passar dos anos revela-o mais consistente do que o permitido por uma leitura disco a disco. E eis que, por conselho de Marc Copland a Jason Seizer, o saxofonista que cumpre funções de Director Musical da Pirouet, surge agora esta sessão com inexplicável data de 1992. Dizer que está entre mundos nunca fez mais sentido. Ouçam um pouco de “Lost in the Stars” (original de Kurt Weill) aqui. Gary Peacock e Bill Stewart distinguem-se naturalmente por uma delicada inteligência que, neste contexto, só reforça o complexo e intenso nível de comunicação esperado em trios de jazz. Carrothers – invariavelmente caracterizado por etéreo – deixa a sua languidez para segundo plano (nota-se sempre nas espirais com que vai sensualmente fugindo aos temas) e produz uma refrescante marcação mais presa à letra do que de costume. O nível de energia, estímulo e emoção só por acidente não se tornou canónico. O New York Times diz que não fica melhor do que isto… e é capaz de ter razão.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Novidades da Pirouet na Time Out
José Carlos Fernandes prossegue a recensão do ainda jovem catálogo da editora sediada em Munique. Sublinha efectivo parentesco entre Sieverts e o Claudia Quintet e avança em espirituoso libelo contra Ruocco. O silêncio umas vezes seduz outras aborrece. E aqui até se podia comparar Ruocco com Chris Speed. Em desacordo, encontramos no atmosférico "Am I Asking Too Much" um eco para o que de mais depurado criaram para o clarinete no jazz instrumentistas como DeFranco, Tony Scott ou Giuffre. Saudosismo nosso, claro. E nessa perspectiva parece-nos o mais encantado trio do género desde que, há uma década atrás, Michael Moore, Fred Hersch e Marc Helias gravaram "Bering".
Já agora: a 4,95 em qualquer Fnac, está também "The Best Is Yet To Come" - um sampler da Pirouet com 11 temas e oferta de catálogo, envolvendo nomes como Tim Hagans, Bill Carrothers, Marc Copland, Lee Konitz, Jason Seizer, Bill Stewart, John Abercrombie, Billy Hart, John Taylor, Jim Black, Gary Peacock ou John Ruocco.
Já agora: a 4,95 em qualquer Fnac, está também "The Best Is Yet To Come" - um sampler da Pirouet com 11 temas e oferta de catálogo, envolvendo nomes como Tim Hagans, Bill Carrothers, Marc Copland, Lee Konitz, Jason Seizer, Bill Stewart, John Abercrombie, Billy Hart, John Taylor, Jim Black, Gary Peacock ou John Ruocco.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Paul Bley – Solemn Meditation (1957)
(Com Dave Pike no vibraphone, Charlie Haden no contrabaixo e Lennie McBrowne na bateria). E começamos pelo alinhamento porque Pike e Haden estrearam-se em disco precisamente neste álbum. O contrabaixista tinha chegado à costa Oeste depois de itinerante infância musical e de amealhar suficiente dinheiro vendendo sapatos pelas Ozarks – este ano revisitou esses tempos no maravilhoso “Rambling Boy” – e ninguém diria que se viria a tornar num dos mais emblemáticos instrumentistas dos últimos 50 anos. Pike é, de certa forma, o elemento melódico do quarteto – por oposição à improvisação mais harmónica de Bley – e ninguém diria que poucos anos depois estaria a gravar versões diluídas de cocktail jazz para mais tarde renascer num abrir das portas da percepção (confiram o acídico álbum na Vortex) que o conduziram à MPS. Por enquanto, aqui, está entre Lem Winchester e Walt Dickerson, simultaneamente discursivo e sintético. Bley está, também ele, longíssimo das experiências que as décadas de 60 e 70 lhe trariam, numa fidelidade quase bop aos modelos de um Bud Powell concentrado e de um Lennie Tristano distraído. Aliás, nem é preciso ir tão longe: pela mesma altura, no Hillcrest Club, já era outra a cantiga.
Max Roach – Complete +4 Sessions (1958-1959)
No início da década de 40, tocou com Coleman Hawkins ou Benny Carter. Ao ingressar em grupos liderados por Charlie Parker ganhou epíteto de revolucionário. Esteve nas sessões de “Birth of the Cool” e com Mingus fundou a Debut. Um célebre quinteto seu viveu enquanto viveu Clifford Brown. Não baixou os braços e deu a mão a Kenny Dorham e Sonny Rollins. Até que, em 1958, funda os +4. É óbvio que aos 34 anos Max Roach era já um veterano. E seria titular de grandes discos até aos anos 80 (nomeadamente na Candid, Impulse ou Soul Note). Situada em ’58 e ’59, esta caixa reúne 7 LPs: “Max on the Chicago Scene” (EmArcy), “Max Roach + 4 At Newport” (Mercury), “Deeds, Not Words” (Riverside), “Award-Winning Drummer” (Time), “The Many Sides of Max” (Mercury), “Sessions, Live” (Calliope), e “The Defiant Ones” (United Artists), sessão originalmente tutelada por Booker Little. Com ambos, estão George Coleman ao saxofone, Ray Draper (na tuba) e o contrabaixista Art Davis. Convidados especiais: Eddie Baker e Tommy Flanagan ao piano e Julian Priester no trombone. O resultado é impossível de resumir em meia dúzia de linhas. Mas a ideia fundamental será esta: nem todo o mais vigoroso hard bop se tornou redundante e inconsequente ao sucumbir sob o seu peso, nem o abraçar de formas mais abertas levou forçosamente ao free. Numa palavra: estilo.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
High Places no Expresso
João Lisboa potenciou a deixa de Vítor Belanciano e escreveu cinco vezes "Young Marble Giants". Leiam-no quase diariamente aqui.
João Coração no Público
Num assomo quase sensual, identificou-se personagem simultaneamente burguesa e aristocrática, imaginou-se um Chet Baker rouco e falou-se sobre pantufas, vinhos e mulheres. Abençoada domesticidade.
Uma frase: "Nº1 (...) é daqueles raros exemplares que parecem a cada espaço desmanchar-se, em que os instrumentos vagueiam, aéreos e perdidos, até por acaso e sorte se encontrarem num refrão e darem um novo sentido a tudo o que cada canção tinha sido aí."
Uma frase: "Nº1 (...) é daqueles raros exemplares que parecem a cada espaço desmanchar-se, em que os instrumentos vagueiam, aéreos e perdidos, até por acaso e sorte se encontrarem num refrão e darem um novo sentido a tudo o que cada canção tinha sido aí."
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
João Coração na Fnac do Chiado
O Som é a Fúria
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
sábado, 15 de novembro de 2008
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Diego El Cigala "Dos Lágrimas"
Quatro anos e um milhão de discos vendidos depois, eis que surge Diego El Cigala com a continuação de “Lágrimas Negras”. Por aqui passa o mesmo tipo de repertório (boleros, chachachás, coplas e tangos) em 11 versões de clássicos latino-americanos. Mas é mais suave, romântico e elegante, concentrando-se a fidelidade ao flamenco exclusivamente na sua voz. Outra grande diferença está nos músicos envolvidos. Desta feita, Cigala partiu em busca de Guillermo Rubalcaba (pianista cubano veterano, de 81 anos, Pai de Gonzalo Rubalcaba e líder de charangas em Cuba desde os anos 50) e adicionou o acordeão de Richard Galliano ao grupo. Depois, convidou o vocalista Reinaldo Creagh (da Vieja Trova Santiaguera), o trompetista Manuel Machado, o contrabaixista Yelsy Heredia, o guitarrista Diego del Morao e os percussionistas Changuito, Tata Güines e Sabú Porrina. O resultado é uma fascinante viagem ao passado, mergulhada nas atmosferas de alguma da mais sofisticada música do século XX. “Dos Lágrimas” funciona em duas direcções – de Espanha para Cuba e de novo na volta das ondas do mar – reflectindo a paixão, a cultura e o saber de uma certa ideia de civilização. E, tal como “Lágrimas Negras”, torna-se essencial na colecção de todos os amantes de música do único Mundo que temos.
Ruben Alves na Fnac Vasco da Gama
Sábado, dia 15, pelas 18h00, Ruben Alves (ouçam aqui) estará na nova Fnac do Centro Comercial Vasco da Gama para um recital improvisado. Quem já o viu ao vivo sabe que todos os seus concertos são experiências únicas e irrepetíveis. No palco, ao piano, entrega-se sempre ao improviso, segue a sua intuição, evoca melodias que lhe são próximas mas reage ao instante. Sugere viagens sonoras a quem o escuta. Passa pelo jazz, música clássica, música para filmes ou cantilenas de raíz popular. É nessa ambiguidade que reside o seu estilo. E é também por aí que nele se imprime um carácter de maior universalidade. Algo que nos nossos dias passa por coisa inexplicavelmente complicada.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Jazz pela voz de Manuel Jorge Veloso
Um revigorado Manuel Jorge Veloso anuncia a suave entrada no Outono. Como nestas andanças convém, a sincopada revista começa num tempo, passa por outro e termina no uníssono. Vão ouvindo o seu Um Toque de Jazz aqui.
Os discos da casa (via Pirouet e Kind of Blue) são:
Bill Stewart - Incandescence
Henning Sieverts - Symmetry
Loren Stillman - Blind Date
Nuttree Quartet - Standards
Walter Lang & Lee Konitz - Ashiya
Bill Carrothers - Home Row
Goerge Cables - You Don't Know Me
Jason Seizer - Time Being
Tim Hagans - Alone Together
Os discos da casa (via Pirouet e Kind of Blue) são:
Bill Stewart - Incandescence
Henning Sieverts - Symmetry
Loren Stillman - Blind Date
Nuttree Quartet - Standards
Walter Lang & Lee Konitz - Ashiya
Bill Carrothers - Home Row
Goerge Cables - You Don't Know Me
Jason Seizer - Time Being
Tim Hagans - Alone Together
High Places no Ípsilon
O título diz tudo (embora preferíssemos ler "Os Pram de Brooklyn") e a capa é a do novo Giant Sand (fraquito, mas com um terceiro tema naquela tangente Cash/Haggard que vale tudo). Ouçam High Places aqui.
Relembramos:
Passos Manuel, 10 de Dezembro
ZDB, 11 de Dezembro
Relembramos:
Passos Manuel, 10 de Dezembro
ZDB, 11 de Dezembro
Feelies no Ípsilon
Mário Lopes aproximou-se da síntese possível, relembrando a banda que à primeira antecipou o essencial da discografia de Lou Reed na década de 80. Depois faltou-lhes a disciplina dos Felt, mas todo o resto é igualmente precioso. Poucas bandas conseguiram ser tão consistentemente fora de moda. E regressaram para o provar. Aqui.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
João Coração no JL
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Fairport Convention no Expresso
João Lisboa relembrou o desígnio maior dos Fairport Convention. Podem lê-lo aqui.
Uma frase:
"E, afinal, em What We Did On Our Holidays e Unhalfbricking, não era impossível adivinhar que aquela banda na qual, aos 23 anos, Ashley Hutchings fazia o papel de ancião (…), tinha digerido por completo a história do rock e da folk e, em versões de Dylan ou Joni Mitchell, em revisões de “tradicionais” ou em assombrosos temas originais (…) estava madura para entrar de imediato nos compêndios".
Uma frase:
"E, afinal, em What We Did On Our Holidays e Unhalfbricking, não era impossível adivinhar que aquela banda na qual, aos 23 anos, Ashley Hutchings fazia o papel de ancião (…), tinha digerido por completo a história do rock e da folk e, em versões de Dylan ou Joni Mitchell, em revisões de “tradicionais” ou em assombrosos temas originais (…) estava madura para entrar de imediato nos compêndios".
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