Os Kimo – que começaram ainda no secundário rodeados de várias espécies de retardados que iam à escola pela proximidade do ABS – aprenderam a esconder a mágoa em infinitas jams de ruídos cor-de-rosa. E fazem barulho suficiente para que nem com o volume no mínimo escape alguma da estridência da sua música. Mais do que um imaginário de reacção, revelam um mundo – onde cabe toda a Fetra – de recorrente insanidade, em que até uma taça inundada de leite e cereais é um agente psicotrópico.
O Leio andava lá no liceu com o J Mascis, o Sushi é um ganda nérd que converte batidas em rojões, o Nacho diz que a sua cena é os 90s mas ouve Prince às escondidas e o Chico provou a si mesmo que podia ser mais do que o gajo do sofá nos ensaios! “Rocket Soda” é o seu álbum de estreia: 12 singles e 1 b-side após 3 anos a fazer música.
Aproveitaram o facto do Rô (produtor) estar de férias para gravar o disco e isso é giro porque eles sabiam que ele não tinha licença para o fazer – o Dudu (produtor executivo e boss do Pony) estava no Butão durante as gravações e só o ouviu depois, enquanto o masterizava. E está muita bem gravado. Apesar de toda a distorção, compressão e de estar tudo em mono, é um álbum hi-fi que faz questão de ter o lo-fi presente em todas as faixas. As pistas gravadas não foram pós-produzidas, têm espirais e pedais dos nineties e ascendem com tons de azul e laranja. O Nacho gravou todas as vozes à primeira enquanto o Sushi demorou três dias a gravar todas as baterias.
Aproveitaram o facto do Rô (produtor) estar de férias para gravar o disco e isso é giro porque eles sabiam que ele não tinha licença para o fazer – o Dudu (produtor executivo e boss do Pony) estava no Butão durante as gravações e só o ouviu depois, enquanto o masterizava. E está muita bem gravado. Apesar de toda a distorção, compressão e de estar tudo em mono, é um álbum hi-fi que faz questão de ter o lo-fi presente em todas as faixas. As pistas gravadas não foram pós-produzidas, têm espirais e pedais dos nineties e ascendem com tons de azul e laranja. O Nacho gravou todas as vozes à primeira enquanto o Sushi demorou três dias a gravar todas as baterias.
O que se passa em "Rocket Soda" não é barulho – ou pelo menos não é só barulho. É barulho pop, em que, para que ecoem para sempre na cabeça dos recém-surdos, as canções estão programadas para entrar no ouvido segundos antes de gerarem uma acentuada perda de audição (real objectivo do álbum). ‘Brad Foh da Corners’, tema inaugural, é disso mesmo exemplo: o jogo de guitarras e baixo é básico, mas nunca é ingénuo; a bateria explode-lhe por cima e a voz está onde deve estar, ao lado dos outros instrumentos. Parece que não se percebe nada mas percebe-se tudo.
A fórmula repete-se (quase) sem variações, mas nunca deixa de ser inventada a cada tema. É assumida, estranhíssima, mas soa sempre simples e eficaz. Não esquecendo um elemento importantíssimo: o solo. Aplicado aqui como uma negação do fade out, obriga cada canção a renascer e a questionar os seus limites. É tudo sempre a abrir e é cantado em inglês e português – mas isso não interessa porque letras são para ninos. Se fosse realmente importante dir-se-ia que se tratam só de canções sobre ‘Lagos’, o Moustache do Abras ou ser muita gay.
Mas nem só de fórmulas vive “Rocket Soda”, ou não fosse pensar-se que os Kimo são bons alunos. Via Jay Reatard, Dinosaur Jr, My Bloody Valentine ou através dos colegas da Fetra, que de professores não têm nada, a escola do rock ensinou-lhes uma série de truques que ‘Kids Are Daficient’ põe em causa. À praxeologia dos 2 minutos são acrescentados outros 6 e o quase punk do costume é trocado pelo primeiro tema a que historicamente podemos chamar "prog-Fetra". Os solos não querem parar e é por isso que não param (por isso, e por cada um ser ainda melhor do que o anterior), a voz tem qualquer coisa de espectral, a bateria, pela sua intensidade cósmica e cadência, deixa dúvidas quanto ao facto de estar a ser tocada por um ser humano, e a parede de som está lá – talvez não como o Phil Spector a idealizou, mas mais através das camadas de distorção. ‘Beaver’ e ‘Fetra’ também funcionam como fugas ao paradigma. No caso, através da inclusão de caixa de ritmos – uma transformação ainda maior se tivermos em conta que a estrutura das canções se mantém aproximada à das anteriores (ainda que a "Fetra" seja um instrumental de hinólogo).
No fundo, aqui como em toda a Cafetra, podemos entender que a simplicidade não vem da incapacidade dos executantes, mas de uma forma de problematizar a necessidade de uma técnica exagerada tendo em conta a facilidade real da execução de canções. E, mais importante, é um disco feito por amigos, piratas e homosecs. O programa é esse.