segunda-feira, 29 de junho de 2009

Norberto Lobo na FNAC COLOMBO

Amanhã (Terça-Feira) à noite! Pelas 21h30!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Os Golpes na FNAC COIMBRA + FNAC CHIADO


Coimbra: Sábado, pelas 22h00!
Chiado: Domingo, pelas 18h30!

Ruben Alves na FNAC CHIADO


Uma oportunidade rara de acompanhar o Ruben num contexto de improvisação! Sexta-feira, pelas 18h30!

Tó Trips na FNAC COLOMBO + TOUR FÓRUNS FNAC


Quinta-Feira, 18h30.

Depois:
Sexta-Feira, dia 26, pelas 17h00 na FNAC SANTA-CATARINA
Sexta-Feira, dia 26, pelas 22h00 na FNAC MAR SHOPPING
Sábado, dia 27, pelas 17h00 na FNAC BRAGA
Sábado, dia 27, pelas 22h00 na FNAC NORTESHOPPING
Domingo, dia 28, pelas 17h00 na FNAC COIMBRA
Domingo, dia 28, pelas 21h00 na FNAC VISEU

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Tortoise no BODYSPACE


Entrevista
Crítica
Escreve Miguel Arsénio (destaques nossos): "Beacons of Ancestorship vem reclamar jogo para os Tortoise. O sexto álbum é uma besta de dinâmica, que cumpre o seu dever como disco de ressurreição. A fibra e a determinação encontram-se por toda a parte: na Londres periférica que estoira em “Northern Something” e nos sintetizadores acentuadamente prog. Segundo estes Tortoise, o hostil é o novo amigável. Doug McCombs, co-fundador e peça vital, falou com o Bodyspace nos dias que antecederam a chegada de Beacons of Ancestorship".

Jazz em vinil III














Nas Fnacs

sábado, 20 de junho de 2009

Norberto Lobo na CENTRAL MUSICAL

A distância já o legitima como um fascinante documento: Norberto Lobo em transição, deixando para trás os temas do seu primeiro disco e avançando rumo aos de "Pata Lenta". Aqui.

Norberto Lobo "Pata Lenta" no COTONETE

Escreve Helder Gomes:
"Norberto Lobo é um músico ímpar, singular e desafiador. Mas na música dele o desafio nunca se envergonha da tradição, nem podia. Não, esta guitarra acústica vai buscar ao dedilhar americano da "escola" de John Fahey os pontos cardeais, aponta o norte com a bússola de Carlos Paredes e ainda serpenteia, irreverente, à procura de novas direcções. Para tudo isto, é necessário um respeito imenso pelo que ficou dessas linguagens e ainda do bluegrass, da folk e do country.

Se ouvido em descontínuo, "Pata Lenta" aparenta uma calma que notoriamente não tem. Escutado de uma ponta à outra e sem interrupções, o segundo disco de Lobo é intermitente, eternamente insatisfeito e consegue ser intemporal e, paradoxalmente, não pertencer a este tempo. As 10 peças com que se cose não respeitam nenhum dos mandamentos da produção de música actual: não geram grandes ondas de seguidismo paroquial (apenas a devoção merecida) e não acabarão na sucata de música produzida por atacado e sem qualquer pingo de relevância.
O certo é que, com apenas uma guitarra, faz-se por aqui música mais cheia de significado do que muito disco carregado de artifícios. Este dedilhar segreda ao ouvido, esta guitarra quase fala para nós - como a de Paredes. É assim desde "Mudar de Bina" de 2007, que incluía uma versão para "Mudar de Vida", justamente de Paredes. Dois anos depois, é Björk quem salta para a guitarra de Norberto Lobo num 'Unravel' despido, económico e, claro, sem letra.

"Pata Lenta" é um disco que causa formigueiro, que pede atenção como uma criança de colo e tem flutuações de humor como um adolescente: das folhas de Outono sugeridas pelo tema-título passa-se logo para um 'Ayrton Senna' com um rendilhado amigo do sol. Há outros títulos que gritam imagens, como as notas que se soltam destas cordas: 'Vento em Polpa' ou 'Zumbido Azedo'. Mas depois há também nomes complexos para texturas simples, como 'Brisa Biónica' ou 'Marquise Quântica'.

E este disco tem Lisboa, muita Lisboa, ainda que não seja imediato (ou sequer fácil) perceber-lhe as sete colinas nas nervuras da "voz" que a guitarra "canta". Talvez porque as melhores coisas não são imediatas."

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Tó Trips na FNAC CHIADO


Hoje (Sábado) pelas 18h30!
Depois:
Quinta-Feira, dia 25, pelas 18h30 na FNAC COLOMBO
Sexta-Feira, dia 26, pelas 17h00 na FNAC SANTA-CATARINA
Sexta-Feira, dia 26, pelas 22h00 na FNAC MAR SHOPPING
Sábado, dia 27, pelas 17h00 na FNAC BRAGA
Sábado, dia 27, pelas 22h00 na FNAC NORTESHOPPING
Domingo, dia 28, pelas 17h00 na FNAC COIMBRA
Domingo, dia 28, pelas 21h00 na FNAC VISEU

Tó Trips no JORNAL DE LETRAS

Tó Trips na TIME OUT

José Marmeleira desvenda "Desvios, dobras, fissuras"

segunda-feira, 15 de junho de 2009

quarta-feira, 10 de junho de 2009

10 de Junho | Samuel Úria em Directo

Espectáculo de realidade ao vivo na correnteza: na Central Musical.

sábado, 6 de junho de 2009

Norberto Lobo "Pata Lenta" na TIME OUT


Jorge Lopes adjectiva:

“Norberto Lobo senta-se à frente de um microfone, pega numa guitarra acústica e produz música irrequieta, aberta, optimista, liricamente eloquente, ansiosa, flutuante, introspectiva, rodopiante, árida, táctil e fugidia. E muito luminosa. Pata Lenta contém dez peças instrumentais que por vezes passam pela folk e por bocados de blues e country, porventura pelo raga e por uma aragem sóbria de Brasil, tudo de uma maneira convulsiva que evoca Carlos Paredes. Peças com títulos inspirados como “Vento em Polpa”; “Marquise Quântica”; e “Ayrton Senna”, que não acelera mais ou menos do que a maioria das outras faixas (ou seja, tem passo naturalmente aligeirado, mas não se estampa contra um muro a 300 km/ hora). É o segundo álbum de Norberto e é como se a sua guitarra absorvesse e interpretasse o passar das estações”.

Norberto Lobo na TIME OUT

José Marmeleira entrevista Norberto Lobo.

Pata Lenta traz mudanças. É evidente o fim do som lo-fi de Mudar de Bina, a primeira obra.
Mudar de Bina era uma manta de retalhos. Foi feito em tempos e em sítios diferentes. Em termos da captação de som, este está mais bem produzido e foi gravado num dia, como se fosse um concerto, mas num estúdio.

É também um disco mais “abstracto”. Notam-se menos as referências a um certo universo visual e sonoro. Refiro-me ao Carlos Paredes, à guitarra portuguesa, a Lisboa.
Sim, mas acho que essa associação acontecia essencialmente porque Mudar de Bina tinha uma versão de uma música do Carlos Paredes. Era uma faixa entre dez e nessa altura já me sentia muito distanciado dessas referências. Aliás, gosto de pensar que uma das maneiras das pessoas ouvirem a minha música é deitadas e de olhos fechados. Para mim, um concerto ideal é poder estar a ver a vida enquanto se ouvem sons, melodias. Quando alguém entra nesse estado de abstracção é que as coisas boas acontecem.

Foi esse gosto pela abstracção que o levou a escolher uma pintura de Michael Biberstein [pintor suíço radicado em Portugal há duas décadas] para a capa de Pata Lenta?
Sim. Mal acabei de gravar pensei numa pintura dele para a capa. Achei que havia uma relação e pedi-lhe imagens. Ele aceitou – somos amigos há algum tempo –, sugeriu-me cinco e escolhi uma. A capa é um elemento muito importante, porque dá uma imagem da música, mais do que as letras ou o título.

Títulos como “Marquise Quântica”, “Samantra” ou “Zumbido Azedo” são, portanto, pistas pouco fiáveis para quem queira entrar a fundo no disco.
Vou atrás dos títulos pela sua ambiência e fonética. Surgem por acaso. Alguns foram sugeridos pelo meu irmão [Manuel Lobo], outros inventei como “Samantra”, que é exactamente uma mantra que fiz para o meu amigo Sam. De facto não penso muito nos títulos. Dou-os quando faço um álbum. Por mim nem os usava.

Porquê?
Uma música hoje pode ser uma coisa, mas para o ano pode acabar misturada com outra, ser outra coisa qualquer. Existem, claro, canções, como certas personagens de um romance, que ficam muito bem definidas, que faço em dez minutos e ficam assim para sempre. Mas outras demoram dez anos a ter uma forma definitiva. Isto porque fundo muito as músicas, sobretudo nos concertos, que é quando os títulos perdem importância ou sentido.

Norberto Lobo "Pata Lenta" no ÍPSILON (II)

Diz Mário Lopes que o Norberto faz "música cheia, música de um navegar majestoso e, nela, cabem Índias e Américas e Portugais".

"Impressiona a dinâmica desta música. A forma como se desenvolve organicamente, expandindo-se e contraindo-se ao sabor do dedilhar de Norberto Lobo. Cada tema de "Pata Lenta" é assim.
Começa como a própria capa do disco, outonal: um prenúncio de tempestade visto de lugar seguro - o dedilhar é lento, os harmónicos são lampejos de luminosidade. Quatro minutos depois, tudo mudou. A folk já ganhou ritmo e delicadeza, a folk há-de tornar-se coisa telúrica que baila em movimento sincopado, há-de ganhar sol em espaço aberto antes de se recolher novamente.
Na verdade, de "Mudar de Bina" para "Pata Lenta", pouco mudou. Uma guitarra acústica e nada mais. Mas porque haveria de mudar se, na realidade, nada se repete? Essa, de resto, é a grande virtude de Norberto Lobo. A capacidade de convocar os mesmos sentimentos, de mostrar o mesmo carinho pela ideia de melodia; a capacidade de fazer tudo isso sem que nos sintamos a repetir os mesmos passos. Onde antes havia uma versão de Paredes, "Mudar de vida", agora há "Unravel", de Björk. Onde antes havia a "Cantiga da ceifa", agora há a nostalgia crepuscular de "Sra do Monte".
Há momentos, como "Brisa biónica", em que se pressente a tradição dos fingerpickers americanos, naquela forma de desencantar mantras das poeiras da folk. Há momentos em que uma melodia, por vezes curta, de segundos, nos diz que quem fez esta música partilha connosco algo de imensamente familiar (a magnífica "Ayrton Senna"). Mas, depois, chegamos a algo como "Samantra" e não, não é nada disso. É música cheia, música de um navegar majestoso e, nela, cabem Índias e Américas e Portugais. Nela, cabe Norberto Lobo inteiro. Um Norberto que já conhecemos e que não mudou.
Mas, pelo que ouvimos em "Pata Lenta", ainda tem muito a dizer que não ouvimos antes".

Norberto Lobo "Pata Lenta" no ÍPSILON

Quem o diz é Mário Lopes: Norberto Lobo aparece e hipnotiza .

“Há dois anos foi editado "Mudar de Bina", o álbum de estreia de Norberto Lobo, e maravilhámo-nos. Havia a dedicatória a Carlos Paredes e havia Paredes lá dentro, mas não reprodução de uma sonoridade, era coisa de alma, algo de intangível.
Não podia ser de outra forma, que Norberto Lobo toca guitarra clássica, não portuguesa. Não podia ser de outra forma porque Norberto Lobo, que passa o dia com uma guitarra às costas, tem a cabeça cheia de música. Música dali e de ontem, música de aqui e de agora. John Fahey e as revoluções do mago da guitarra na Americana. Os sons da cítara de Ravi Shankar e do mandolim de Mandolin U. Shrinivas. E Robert Wyatt e Thelonius Monk e, acima de toda a gente, o multifacetado Jim O'Rourke de quem fala com incontido entusiasmo.

[...]

Eis Norberto Lobo, autor de música que dispensa palavras, guitarrista de uma expressividade tocante. Ei-lo estendendo a mão para nos cumprimentar e eis-nos comentando a peça de roupa que lhe decora o tronco: "Manowar?!" Sim, Norberto acha piada aos ícones mais icónicos do heavy-metal americano, a todos os seus excessos de som e imagem, e conta-nos que um amigo ganhou recentemente a possibilidade de os acompanhar nos bastidores de um concerto espanhol (e ele está entusiasmado porque há espaço para ele).

Conhecemos o humor de Norberto Lobo, do seu gosto por Buster Keaton e por versões do genérico do MacGyver (tocava-as há dois anos), e o humor não é certamente alheio à tal t-shirt. Essa, porém, é mero pormenor. Aquilo a que queremos chegar é uma outra coisa. Isto é o que nos dirá quando a conversa se aproxima do final. Falávamos das suas viagens, dos seus concertos Europa fora, daquilo que ia descobrindo de único em cada um desses países e cidades que vai conhecendo. Diz-nos, então, Norberto: "Cada local tem a sua especificidade, mas ao mesmo tempo vê-se que isto é tudo uma grande aldeia. Existem fadistas japoneses, não é? E bandas como os Extra Golden [formados por americanos e quenianos, simbiose de funk e benga], que são um óptimo exemplo de como já não faz sentido falar do que é ou não é de onde. Não sou a favor da conversa globalização versus qualquer coisa, até porque a antropologia já provou que não existe tal coisa como identidade cultural. Fala-se disso há 150 anos, é um tema ultrapassado e a internet ainda vem suportar mais isso." A culpa, portanto, é toda dele.

Culpa, expliquemo-nos, desta música ter uma limpidez emotiva que nos trespassa, de ser um diálogo de si para si que, generosa, faz questão de nos acolher nesse movimento. "Mudar de Bina", como dissemos, tinha uma versão de Paredes, duas do cancioneiro português, e isso ajudou-nos a focar o olhar em determinada direcção. "Pata Lenta" tem uma versão de "Unravel", de Björk, e títulos como "Ayrton Senna", "Vento em polpa" ou "Zumbido Azedo", mas o olhar não se desvia. Norberto Lobo prossegue viagem e seguimos com ele. "Aquilo [a versão de "Mudar de vida" e do cancioneiro] não eram âncoras", explica. "Pelo contrário, eram desafios, pontos de partida." E ele, saltimbanco da guitarra, músico em viagem, não aprecia regressos: "Quero sentir-me em permanente desafio comigo próprio. Caso contrário, não tem piada." Mais: "Não acho que tenha uma linguagem definida. Sinto que todos os caminhos são ainda possíveis e sinto que sei cada vez menos. Quanto mais me debruço sobre a música, mais vejo o que ainda tenho para fazer."

Todos os contrastes
Norberto Lobo até tinha tudo preparado para "Pata Lenta". As canções, o estúdio, o dia em que o gravaria. Depois, atravessou-se-lhe a realidade: "Funcionou quase como um documentário: quando chegas ao local e começas a gravar, descobres outra coisa." Em "Pata Lenta", Norberto quis recriar uma "experiência de concerto". Não lhe interessava a perfeição, interessava-lhe a pureza e intuição da interpretação. "O disco é uma fotografia à música, naquele dia e naquele momento."

Para compreender a sua vitalidade importa perceber isto que Norberto nos diz: "Na música que quero fazer o erro é tão importante quanto o resto. Eu não edito, incluo a história sem cortes. Não quero fazer um 'take' perfeito que em concerto não vai existir." Mas, como faz questão de assinalar, "isto não é nada de novo": "Tens outros músicos, como por exemplo o [Thelonius] Monk, em que a maneira como toca é tão importante quanto aquilo que toca." Pormenor importante, este. Porque Norberto é alguém que se diz contra a ideia de que "já tudo foi feito" - pelo contrário, "tudo pode ser feito": "cada pessoa tem a sua expressão individual e fará a sua própria fusão" (di-lo e pede desculpa: "fusão é uma expressão horrível").

Porque Norberto se lembra daquilo que, certo dia, afirmou John Fahey quando lhe perguntaram o que era aquilo que fazia quando subia a um palco. Muito simples: "Vou para lá e hipnotizo as pessoas." Com um pormenor adicional: "Acho que o que ele queria também dizer é que se hipnotizava a si mesmo. Que se hipnotizava a si mesmo, logo, hipnotizava os outros."

Então, compreendemos perfeitamente que nos fale do seu fascínio pela ideia de mantra, de "loop": "gosto muito de descobrir uma linha que possa ser navegável durante muito tempo, com diferenças mínimas de bloco para bloco". E reconhecemos que referir "O Caminho Estreito Para o Longínquo Norte", do japonês Matsuo Bashô, e "A Invenção de Morel", do argentino Adolfo Bioy Casares, como importantes para a música que lhe ouvimos ajuda a explicar a misteriosa luminosidade de "Pata Lenta": "O universo do realismo fantástico, na sua expressão mais lata, interessa-me na música, no cinema, na literatura, em qualquer outro lado."
Aqui chegados, reformulemos. Norberto Lobo é um músico curioso que se apaixonou recentemente pela tambura, instrumento indiano, ao ponto de já ter uma banda onde a toca em exclusivo (chamam-se Tigrala e partilha-os com Guilherme Canhão, dos Lobster, e com o percussionista mexicano Ian Carlo Mendoza).

Norberto Lobo editará nos próximos meses o álbum de estreia dos Norman, banda de rocks e jazzs e experimentalismos que tem há dez anos e onde encontramos o irmão Manuel e o baterista João Lobo. Norberto fala-nos da pintura de Michael Biberstein, que ele adora e que ilustra a capa de "Pata Lenta", fala-nos da sua saudável obsessão por xadrez (se o encontrarem num bar, noite alta, a jogar uma partida, não estranhem, é ritual), fala-nos de música e do resto com igual entusiasmo.

E depois, algures entre isso de que nos fala, diz isto assim: "Não sei o que é isso de haver música triste e alegre. A vida não é feita de preto e branco, é feita de cinzentos. Ouço Coltrane e aquilo é de uma pungência... Nem passa por ser triste ou alegre, está acima disso. São as emoções toda numa só canção, como acontece com o [Carlos] Paredes. Isso é o que eu vejo neles." Acto contínuo, acrescenta: "Mas não sei o que as pessoas vêem na minha música."

Pois bem, na música de Norberto Lobo vemos tudo isso. A ele e a nós próprios. Isto aqui e aquilo lá fora. Os contrastes todos”.

Norberto Lobo "Pata Lenta" no BODYSPACE

André Gomes saúda um dos melhores discos portugueses que esta década teve a sorte de receber.

"Quando em 2007 lançou Mudar de Bina pela Bor Land, o nome de Norberto Lobo passou a andar pelas bocas de muitos, visivelmente encantados pela musicalidade de um guitarrista que não coloca a técnica à frente do conteúdo. Isto não quer dizer que Norberto Lobo não seja prodigioso na guitarra (porque até o é), mas sim que as suas preocupações principais e prioritárias são outras. São por exemplo recriar um certo imaginário tradicional português (algo evidente nas melodias e no sentimento global do disco) e de, assumidamente ou não, o fundir com a genialidade de guitarristas fingerpickers americanos como John Fahey e Robbie Basho. Agora, no segundo conjunto de canções, intitulado Pata Lenta, Norberto Lobo repete o brilharete.

Quis Norberto Lobo que o disco começasse precisamente com o tema-título do disco e a escolha não poderia ter sido mais certeira. “Pata Lenta” começa sombria e tremida mas agiganta-se a cada momento que se segue: ganha cor, ganha movimento e tudo se alinha na perfeição. Sozinho na guitarra Norberto Lobo não parece solitário; parece convidar a uma celebração interna, a uma explosão dos sentidos. Norberto Lobo parece viver em paz consigo mesmo apesar da entrega necessária para a criação de um disco deste género. Há logo depois de “Pata Lenta” a apressada “Ayrton Senna”, que foi impressionando nalguns concertos ao vivo de Norberto Lobo, a querer tornar ainda mais real a chamada para a comemoração aproveitando para isso as mais vivas colorações possíveis.

Há muito neste disco das ruas portuguesas, da ruralidade, do Portugal profundo. Dos campos e montes, das vindimas e desfolhadas, dos ventos e marés. Há uma portugalidade que não pode deixar de se elogiar. Há um homem obcecado pela melodia e com a habilidade suficiente para a aplicar em guitarras que estremecem com a sua vontade. Mas há muito mais do isso. Há por exemplo uma canção como “Sra do Monte” que se desdobra em esforços para ser intensa numa evolução interna que enternece, num jogo de sombras e luzes que deixa marcas ao longo do caminho. Ou até uma versão deliciosa para “Unravel” de Björk que descobre na islandesa surpreendentes genes portugueses. Finalmente, há em Pata Lenta um disco que consegue o difícil: ser melhor que Mudar de Bina. Mais até, note-se: consegue ser um dos melhores discos portugueses que esta década teve a sorte de receber".

terça-feira, 2 de junho de 2009

Norberto Lobo na Casa do Alentejo

Noite de festa absoluta na Casa do Alentejo, celebrando o novo disco do Norberto. Aconselha-se chegada às 21h30 - há mesas mas não chegam para todos. "Pata Lenta" será então colocado à venda. A capa é de Michael Biberstein:

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Tó Trips no DIÁRIO DIGITAL

Davide Pinheiro entrevista Tó Trips:
Podemos dizer que este é o teu primeiro álbum a solo?
Sim, e o meu primeiro disco a solo porque sou eu sozinho a fazê-lo. Nasceu porque precisava mesmo de tirar este disco cá para fora. É uma dedicatória à minha mulher que aparece na capa e é um disco que resulta de viagens. Ela trabalha em som e tal como eu é uma pessoa que gosta de viajar. Quando nos conhecemos, viajávamos e percebemos que eramos compatíveis. Sou uma pessoa muito romântica.

Mas és um romântico diferente...
Sim, é um romantismo imagético que remete para o sonho.Há uma ideia de partilha, de liberdade. Eu sempre gostei de olhar para a linha do horizonte. Sempre viajei desde o tempo do Interail. Sou bastante observador e curioso por conhecer coisas. O disco é resultado isso e da necessidade de ouvir outras músicas.

Foi por isso que deixaste o rock após o fim dos Lulu Blind?
Sim. Quis ir buscar outras coisas. Gosto de rock e não me importava de ter outra banda mas sou uma pessoa curiosa e a minha mulher também. Ela também me está sempre a passar música nova.

E porquê a guitarra clássica?
Queria um disco instrumental com guitarra clássica. Comecei a ouvir flamenco e a interessar-me por esse tipo de sonoridade. É uma experiência. Gosto de desafios novos.

A técnica passou a ser mais importante para ti do que no passado?
Hoje em dia dou mais importância à técnica mas acima de tudo está a atitude. Tenho mais técnica do que há dez anos mas tento sempre pegar na guitarra como se fosse a primeira vez. Costumo dizer que sou guitarrista e não músico porque exploro o instrumento até ao limite. Toco imenso tempo sozinho. Foi uma das razões que me levou a preparar este disco.

Estas composições não poderiam fazer parte dos Dead Combo?
Não, porque estive a trabalhar sozinho. Depois gravei tudo durante uma semana. Os Dead Combo envolvem outra pessoa. Posso compor sozinho mas depois mostro ao Pedro (Gonçalves).

E estás sempre a trabalhar...
Farto-me de trabalhar mas não sou workaholic. Ando um bocado saturado. Apetecia-me ir de férias mas sou uma pessoa feliz que faz o que gosta. Como é que eu consigo? Exige uma grande organização mental e de calendário. Como trabalhei vários anos em publicidade, habituei-me a ter prazos. Não sou pessoa de deixar andar mas claro que trabalho muitas vezes à noite.

O trabalho enquanto gráfico é um complemento ao de músico?
Sempre gostei da imagem ligada à música. Desde miúdo. Coleccionava flyers e posters. Tenho uma colecção fixe de bilhetes. Agora, os bilhetes são todos iguais. Perdeu-se esse lado criativo.

O título «Guitarra 66» remete para o ano em que nasceste mas também para «Route 66»...
Nasci em 66. Gosto do número. Conheço muita malta da minha geração que é porreira. Esse trocadilho é possível mas musicalmente não tem muito a ver. Teria mais a ver com o som bluesy dos Dead Combo.

O que é que gostavas de fazer que ainda não experimentaste?
Acho que descobri um caminho. Tenho uma maneira particular de tocar que é a minha. Gosto de experimentar coisas. Tanto fiz agora isto como surgiu, entretanto, uma ideia de fazer um disco com uma pessoa da electrónica. É um desafio para mim. Gosto do ecletismo.

Sentes nostalgia de ter uma banda de rock?
Sim, gostava de voltar a ter uma banda de rock mas as únicas saudades que tenho dos Lulu Blind são da união. Havia a banda e os amigos. Íamos beber copos juntos depois dos concertos. Não sou muito nostálgico mas esse problema há-de se resolver. Já tenho umas ideias na cabeça.

Seria possível subsistires da música exclusivamente enquanto músico?
Também ganho dinheiro da música mas não gostava de viver só da música. Gosto de estar ligado à imagem. Sempre gostei de ir a concertos, de ver bandas. Gosto de estar lá em cima e cá em baixo.

Enquanto melómano o que é que te entusiasmou nos últimos tempos?
Entusiasmou-me o Sean Riley, Gosto dos d3o, do (Legendary) Tigerman, do Norberto Lobo e do Mazgani. Continuo a ouvir punk, Napalm Death e rock pesado. Às vezes, a música já nem me diz tanto mas a técnica interessa-me.

O que é que te fez deixar o rock?
O cansaço de estar à espera das pessoas para ensaiar. Queria experimentar outros sons. Os Lulu Blind demoraram dez anos e eram mais uma terapia ou uma descarga de energia. A música tem um lado terapeutico para mim. Era uma forma de esquecer o dia a dia e continua a ser assim. Nunca vejo isto como uma profissão.

Que projectos tens em carteira?
Está para sair um disco ao vivo dos Dead Combo gravado no Hot Club. Continuo com o Tiago (Gomes) e o projecto On The Road. Este ano, trabalhei na imagem dos Xutos & Pontapés e sou responsável gráfica do Optimus Discos. Estou a trabalhar no grafismo do novo disco dos Legendary Tigerman e com o Festival Silêncio. Em Novembro, há-de sair uma história para crianças dos Dead Combo. É um livro com as nossas personagens. A história está escrita pelo Pedro Gonçalves e eu sou responsável pelas ilustrações. Falta-me uma coisa...ah já sei! Tenho que fazer a capa de um livro de terror que é um imaginário que me interessa muito.

E férias?
Sim, tenho uma semana em Agosto mas queria mais (risos).