"Norberto Lobo é um músico ímpar, singular e desafiador. Mas na música dele o desafio nunca se envergonha da tradição, nem podia. Não, esta guitarra acústica vai buscar ao dedilhar americano da "escola" de John Fahey os pontos cardeais, aponta o norte com a bússola de Carlos Paredes e ainda serpenteia, irreverente, à procura de novas direcções. Para tudo isto, é necessário um respeito imenso pelo que ficou dessas linguagens e ainda do bluegrass, da folk e do country.
Se ouvido em descontínuo, "Pata Lenta" aparenta uma calma que notoriamente não tem. Escutado de uma ponta à outra e sem interrupções, o segundo disco de Lobo é intermitente, eternamente insatisfeito e consegue ser intemporal e, paradoxalmente, não pertencer a este tempo. As 10 peças com que se cose não respeitam nenhum dos mandamentos da produção de música actual: não geram grandes ondas de seguidismo paroquial (apenas a devoção merecida) e não acabarão na sucata de música produzida por atacado e sem qualquer pingo de relevância.
O certo é que, com apenas uma guitarra, faz-se por aqui música mais cheia de significado do que muito disco carregado de artifícios. Este dedilhar segreda ao ouvido, esta guitarra quase fala para nós - como a de Paredes. É assim desde "Mudar de Bina" de 2007, que incluía uma versão para "Mudar de Vida", justamente de Paredes. Dois anos depois, é Björk quem salta para a guitarra de Norberto Lobo num 'Unravel' despido, económico e, claro, sem letra.
"Pata Lenta" é um disco que causa formigueiro, que pede atenção como uma criança de colo e tem flutuações de humor como um adolescente: das folhas de Outono sugeridas pelo tema-título passa-se logo para um 'Ayrton Senna' com um rendilhado amigo do sol. Há outros títulos que gritam imagens, como as notas que se soltam destas cordas: 'Vento em Polpa' ou 'Zumbido Azedo'. Mas depois há também nomes complexos para texturas simples, como 'Brisa Biónica' ou 'Marquise Quântica'.
E este disco tem Lisboa, muita Lisboa, ainda que não seja imediato (ou sequer fácil) perceber-lhe as sete colinas nas nervuras da "voz" que a guitarra "canta". Talvez porque as melhores coisas não são imediatas."
Se ouvido em descontínuo, "Pata Lenta" aparenta uma calma que notoriamente não tem. Escutado de uma ponta à outra e sem interrupções, o segundo disco de Lobo é intermitente, eternamente insatisfeito e consegue ser intemporal e, paradoxalmente, não pertencer a este tempo. As 10 peças com que se cose não respeitam nenhum dos mandamentos da produção de música actual: não geram grandes ondas de seguidismo paroquial (apenas a devoção merecida) e não acabarão na sucata de música produzida por atacado e sem qualquer pingo de relevância.
O certo é que, com apenas uma guitarra, faz-se por aqui música mais cheia de significado do que muito disco carregado de artifícios. Este dedilhar segreda ao ouvido, esta guitarra quase fala para nós - como a de Paredes. É assim desde "Mudar de Bina" de 2007, que incluía uma versão para "Mudar de Vida", justamente de Paredes. Dois anos depois, é Björk quem salta para a guitarra de Norberto Lobo num 'Unravel' despido, económico e, claro, sem letra.
"Pata Lenta" é um disco que causa formigueiro, que pede atenção como uma criança de colo e tem flutuações de humor como um adolescente: das folhas de Outono sugeridas pelo tema-título passa-se logo para um 'Ayrton Senna' com um rendilhado amigo do sol. Há outros títulos que gritam imagens, como as notas que se soltam destas cordas: 'Vento em Polpa' ou 'Zumbido Azedo'. Mas depois há também nomes complexos para texturas simples, como 'Brisa Biónica' ou 'Marquise Quântica'.
E este disco tem Lisboa, muita Lisboa, ainda que não seja imediato (ou sequer fácil) perceber-lhe as sete colinas nas nervuras da "voz" que a guitarra "canta". Talvez porque as melhores coisas não são imediatas."