sábado, 2 de agosto de 2008

Bossa Nova 50 Anos - Tropicalismo 40 Anos



António Carlos Jobim “Sinfonia do Rio de Janeiro” (1954)
Edição: él

Pela primeira vez em CD, a estreia de Tom Jobim em nome próprio, em gravações de 1954! Inclui o primeiro single de impacto, “Tereza da Praia”, cantado por Lúcio Alves e Dick Farney, e a histórica suite “Sinfonia do Rio de Janeiro”, em que participam ainda Elizete Cardoso, Doris Monteiro, Nora Ney, Emilinha Borba e Os Cariocas! Como bónus, dois dos seus primeiros sucessos - “Solidão” e “Outra Vez” – nas vozes dos seus cantores originais, Nora Ney e Dick Farney.

Apresentação:
No Rio de Janeiro de início dos anos 50, como tantos outros grandes compositores e intérpretes, também Tom Jobim precisava de fazer pela vida nos bares do Beco das Garrafas. Num regime de boleros, tangos, foxes, standards e sambas, ele e os outros pianistas de serviço mais ousados tentavam aqui e ali encaixar uma peça original, mas o mais provável era terminarem a noite na fossa, levando com garrafas (daí o nome do Beco) atiradas pelos moradores, fartos do barulho e da boémia. Não era vida para ninguém, e, durante o dia, Tom insistia em mostrar o seu livrinho de arranjos às diferentes editoras da cidade. Após um estágio na pequena Euterpe, consegue entrar na Continental.

Apadrinhado pelo grande maestro Radamés Gnatalli, começa a trabalhar passando para as pautas velhos sambas e escrevendo as partes para cordas e sopros das novas canções de estrelas da altura como Dalva de Oliveira, Orlando Silva, Elizete Cardoso ou Dick Farney. Os resultados são brilhantes. Motivado, começa a compor mais. De uma parceria com Billy Blanco nasce “Tereza da Praia”, imediatamente adoptada por Farney e Lúcio Alves como o veículo ideal para, em dueto, desfazerem o equívoco de que não se davam bem. Foi um enorme sucesso.

Jobim ganhava o respeito de todos na editora, e mal a Continental se lançou no fabrico de discos de 10 polegadas decidiu-se por algo inédito: uma sinfonia de música popular, inspirada pelo mar, pelas ondas, pelas montanhas, pela cidade, seus bairros e quotidiano, em que participaria a nata dos cantores da rádio e da canção. Assim nasceu a “Sinfonia do Rio de Janeiro”, editada em 1954 e até hoje, na Europa, inédita em CD.

É natural vê-la como um esboço para o que viria a seguir na vida do maior compositor brasileiro de sempre, e muitos reconhecem na sua temática um antepassado claro para o que daí a quatro anos todos se prestavam para apelidar de Bossa Nova, mas, para nós, ela surge também como a suprema síntese entre as principais tendências da música popular no Brasil e a forma como compositores – com Villa-Lobos à cabeça, claro – a tentavam na sua produção espelhar. Enfim, os ângulos são infinitos – o tempo encarregou-se de o justificar. Musicalmente, ainda que nunca desenvolvida nesse sentido, terá tanto em comum com o “West Side Story”, de Bernstein, editado três anos mais tarde, quanto com o que o mesmo Jobim viria logo a seguir a fazer com Dolores Duran ou Vinicius de Moraes (no “Orfeu da Conceição”, mais tarde adaptado ao cinema como “Orfeu Negro”).

Claro que quando João Gilberto regressou ao Rio – com “Bim-Bom” e “Oba-la-lá” na algibeira –, e com Jobim já empregado como Director Artístico da Odeon, a canção iria ter outra batida, e, após o lançamento de “Canção do Amor Demais”, de Elizete Cardoso, e da estreia de João com “Chega de Saudade” – e consequente adopção pelo mundo inteiro do seu estilo – até mesmo Jobim passou sempre a ser visto à luz da Bossa Nova. Nem podia aliás ser de outra maneira, com contribuições como “Desafinado”, “A Felicidade”, “Eu sei que vou te amar”, “Meditação”, “Samba de uma nota só”, “Corcovado”, “Insensatez” ou, entre tantas outras, “Garota de Ipanema” a sustentarem a sua espinha dorsal. Depois aconteceram os EUA e o resto é história.

Mas para o que aqui e agora interessa, que fique claro que se ignorarmos esta “Sinfonia do Rio de Janeiro”, nunca iremos ter o retrato completo de Tom. Este disco é histórico e fundamental para todos os amantes de música, seja ela de onde for… de quando for. E, claramente ressalvando a excelência de tudo aquilo em que a Banda Nova tocou, é, naquilo que ao mercado dirá respeito, o seu verdadeiro “Inédito”. E muito mais do que um prólogo.