Mutantes – Os Mutantes (1968)
Edição:Lilith
Há que começar pelo princípio. Neste caso, por “Panis Et Circensis”. Até porque, convenientemente, o tema arruma com o ano de 67 antes de avançar naquela que o tempo soube consagrar enquanto peça central do psicadelismo. É que a canção manifesto de Caetano e Gilberto Gil é o “White Rabbit” brasileiro – e, simultaneamente, o seu “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e o seu “Heroes And Vilains”. Mas não se fica só entre Londres e a Califórnia. Senão seria derivativa de uns Love, Byrds, Who, Frank Zappa, Captain Beefheart, Doors, Velvet Underground, Donovan ou Jimi Hendrix. Embora tenha eco de todos eles, define-se antes por acontecimentos e protagonistas que, de forma exemplar, ultrapassam a contingência do mundo anglo-saxónico sem precisar de guru importado. Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Baptista oscilam entre a tutela da dupla teórica do tropicalismo e a boa onda da agulha do gira-discos. E aquilo que podia ser pouco mais do que samba rock em versão de garagem – e cá está Jorge Ben a saltar a fogueira – transforma-se no rebentar de uma bolha alimentada a fósforo. E depois há orquestrações de um Rogério Duprat com rédea livre: gamelão em piano de brincar, cuíca dodecafónica, marimba de plástico, órgão hammond dedicado à Jovem Guarda, Índia no Amazonas, Nordeste na Indonésia. E uma Françoise Hardy eternamente virgem, uns The Mamas And The Papas macumbeiros, Morricone em carrilhão de casa de bonecas, swinging Bombaim e Bolly-ié-ié. Começa com o jingle de um noticiário e acaba a saudar Gengis Khan. O regime militar acabou com a festa.
Edição:Lilith
Há que começar pelo princípio. Neste caso, por “Panis Et Circensis”. Até porque, convenientemente, o tema arruma com o ano de 67 antes de avançar naquela que o tempo soube consagrar enquanto peça central do psicadelismo. É que a canção manifesto de Caetano e Gilberto Gil é o “White Rabbit” brasileiro – e, simultaneamente, o seu “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e o seu “Heroes And Vilains”. Mas não se fica só entre Londres e a Califórnia. Senão seria derivativa de uns Love, Byrds, Who, Frank Zappa, Captain Beefheart, Doors, Velvet Underground, Donovan ou Jimi Hendrix. Embora tenha eco de todos eles, define-se antes por acontecimentos e protagonistas que, de forma exemplar, ultrapassam a contingência do mundo anglo-saxónico sem precisar de guru importado. Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Baptista oscilam entre a tutela da dupla teórica do tropicalismo e a boa onda da agulha do gira-discos. E aquilo que podia ser pouco mais do que samba rock em versão de garagem – e cá está Jorge Ben a saltar a fogueira – transforma-se no rebentar de uma bolha alimentada a fósforo. E depois há orquestrações de um Rogério Duprat com rédea livre: gamelão em piano de brincar, cuíca dodecafónica, marimba de plástico, órgão hammond dedicado à Jovem Guarda, Índia no Amazonas, Nordeste na Indonésia. E uma Françoise Hardy eternamente virgem, uns The Mamas And The Papas macumbeiros, Morricone em carrilhão de casa de bonecas, swinging Bombaim e Bolly-ié-ié. Começa com o jingle de um noticiário e acaba a saudar Gengis Khan. O regime militar acabou com a festa.